28 maio, 2010

O CENTRO ESPÍRITA E A ORGANIZAÇÃO FEDERATIVA

Passados pouco mais de 60 anos da realização da Grande Conferência Espírita no Rio de Janeiro (5/10/1949) que reuniu representantes de várias Federações e Uniões de âmbito estadual, cuja ata resultou no documento base da Unificação em nosso movimento conhecido como “Pacto Áureo”, se faz necessário refletir sobre a forma como os centros espíritas podem melhor contribuir para a execução do programa federativo voltado para a unificação do movimento espírita no Brasil, cujos fundamentos guardam estreita sintonia com as “Bases de Organização Espírita” publicada em 1904 na revista “Reformador”, pela Federação Espírita Brasileira.
As Bases de Organização Espírita objetivam a harmonia nas ações desencadeadas pelo movimento espírita com vista à divulgação do Espiritismo, condição essencial para que se garanta a unidade doutrinária, a conjugação de esforços e a fraternidade no crescimento do Espiritismo em nosso país. Elas inspiraram a criação do Conselho Federativo Nacional, instalado em 1950 e que, ao longo desse tempo, vem adotando medidas concretas, através de resoluções, programas e campanhas, voltadas para a concretização dos propósitos da Unificação do movimento espírita brasileiro e a manutenção da unidade doutrinária.
Assim sendo, e passados esses anos, compete aos dirigentes e trabalhadores voluntários das casas espíritas, em atenção aos inspiradores desencarnados do Pacto Áureo, aperfeiçoar, a cada dia, as ações e atividades desenvolvidas em suas instituições, de forma a guardarem plena sintonia com os programas e orientações emanadas da organização federativa, que é nosso traço de união com as demais coirmãs espalhadas por nosso país e com os ideais da Unificação. Nesse sentido cremos ser conveniente atentarmos para os seguintes pontos.

a) Participação dos Centros Espíritas nas reuniões, conselhos e eventos promovidos pelo Órgão de Unificação Estadual.

A participação nessas reuniões e eventos reveste-se de grande importância por ensejar valiosa oportunidade, não só para o estreitamento de laços de convivência fraterna, mas acima de tudo para troca de informações e experiências, análise de problemas e necessidades comuns, detalhamento da implementação de programas federativos, apresentação de sugestões voltadas para a divulgação do Espiritismo, apresentação de campanha e recomendações aprovadas e lançadas pelo Conselho Federativo Nacional da FEB, enriquecimento do nosso acervo de conhecimentos doutrinários e viabilização de ações conjuntas.
Destes momentos resulta a concretização da unidade de vistas no movimento espírita. Abdicar deles, recolhendo-se ao âmbito exclusivo de sua instituição, constitui erro crasso no entendimento do que seja a melhor forma de servir a causa do Cristo por meio do Espiritismo. Mais do que nunca, nos dias atuais, somos chamados ao trabalho fraterno, conjunto, a união de esforços, pois a mudança de paradigmas decorrentes dos novos valores e necessidades dos tempos modernos, muitas vezes exigirá das instituições esforço redobrado para não sucumbir às investidas provenientes das idéias equivocadas de modernidade e nova era. “Solidários, seremos união. Separados uns dos outros, seremos pontos de vista”(Bezerra de Menezes). Juntos ampliaremos nossas forças, garantindo assim condições mais seguras para enfrentarmos e vencermos as dificuldades, tentações e investidas que venham, direta ou indiretamente, a desnaturar os propósitos espíritas.
Aos que acreditam ser desnecessária a vinculação dos centros espíritas ao Órgão de Unificação Estadual para juntos, adequada e harmoniosamente, alcançarem o ideal comum de bem contribuírem para a difusão do Espiritismo, pedimos a atenção para dois aspectos:

1) Não basta, somente, que uma instituição esteja em plena sintonia com os propósitos e recomendações do genuíno Espiritismo. Se outras assim não procederem; por falta de quem as orientem e auxiliem ou por não estarem acostumadas a participar de momentos coletivos de reflexão sobre como atuar apropriadamente em favor da causa espírita, mais dia menos dia, a credibilidade da Doutrina Espírita na sociedade será abalada e isso afetará todas as demais instituições.

2) Em OBRAS PÓSTUMAS, ALLAN KARDEC deixou-nos a seguinte advertência:
“Os que nenhuma autoridade admite não compreendem os verdadeiros interesses da doutrina. Se alguns pensam poder dispensar toda direção, a maioria, os que não se crêem infalíveis e não depositam confiança absoluta em suas próprias luzes, se sentem necessitados de um ponto de apoio, de um guia, ainda que apenas para ajudá-los a caminhar com segurança.”(OBRAS PÓSTUMAS- Constituição do Espiritismo – Allan Kardec).

Tomando como base as colocações ora apresentadas se faz imprescindível a participação dos representantes e voluntários das casas espíritas nesses momentos de integração e unidade de ação. Para isso, quando do planejamento das suas atividades, as instituições devem considerar as datas constantes do calendário de eventos federativos (reuniões do Conselho Federativo Estadual, seminários, simpósios, mostras espíritas, congressos, fórum de debates, cursos, treinamentos, etc), de forma a possibilitar a presença de seus trabalhadores nesses eventos.

b) A união de esforços em favor da difusão do Espiritismo e da unidade de princípios da Doutrina Espírita.

As instituições espíritas, preferencialmente as que guardam relativa vizinhança geográfica, bem que poderiam se reunir, sempre que possível, para realizarem atividades conjuntas. Eventos como semana espírita, ciclo de palestras, debates sob a ótica doutrinária de temas de interesse geral, inclusive após apresentação de filmes com temática espírita, cursos e treinamentos destinados ao aprimoramento de trabalhadores e ministrados pelo Órgão Estadual de Unificação, são exemplos possíveis de serem executados em conjunto, com benefícios concretos para todos os envolvidos.
Geralmente o Órgão Estadual de Unificação, com vista à melhor atender ao centro espírita em espaços o mais próximo possível de sua localidade, divide o Estado em regiões geográficas, criando em cada uma delas organismo próprio vinculado ao seu Conselho Federativo Estadual com o nome de áreas federativas estaduais, conselhos espíritas regionais, etc. Esses organismos federativos podem, de acordo com as solicitações das instituições espíritas situadas na região de sua abrangência, desenvolver cursos, treinamentos, encontros, simpósios, seminários ou outros eventos que objetivem colaborar com o movimento espírita local na difusão e divulgação do Espiritismo e na preservação da unidade de princípios da doutrina espírita. No entanto, para que esses propósitos sejam alcançados é fundamental o apoio dos dirigentes de instituições as reuniões e eventos realizados por esses organismos, viabilizando, sempre que possível, sua participação em cada um deles e motivando seus voluntários e futuros trabalhadores a assim procederem.
As instituições poderiam também, num gesto de solidariedade e fraternidade, permutarem oradores, ocasião em que as mais aquinhoadas desses voluntários os incentivaria a colaborar com os trabalhos da tribuna espíritas das coirmãs que apresentassem maior dificuldade na variação da sua escala de oradores nas reuniões públicas.

c) Implementação do Plano de Trabalho para o Movimento Espírita Brasileiro elaborado pela FEB.

No Plano de Trabalho para o Movimento Espírita Brasileiro proposto para o período de 2007 a 2012 e aprovado pelo Conselho Federativo Nacional da Federação Espírita Brasileira em 12/04/2007, a casa máter do Espiritismo em nosso país convida todas as instituições espíritas brasileiras a, no seu âmbito de ação, implementar as seguintes recomendações:
1) Participar dos Conselhos e Organismos governamentais, nos termos da Lei, cujos objetivos sejam compatíveis com os princípios espíritas.
2) Participar em ações, campanhas e organizações das sociedades civil e religiosa, cujos objetivos sejam compatíveis com os princípios espíritas.
3) Aprimorar o trabalho de atendimento às pessoas que buscam nos Centros Espíritas esclarecimento, orientação e assistência.
4) Realizar campanhas de esclarecimento sobre o que é Espiritismo.
5) Promover e realizar estudo metódico, constante e sistematizado da Doutrina Espírita.
6) Divulgar a Doutrina Espírita por todos os meios lícitos de comunicação, de forma compatível com os princípios doutrinários.
7) Intensificar a difusão do livro espírita como instrumento básico na divulgação dos ensinos espíritas.
8) Ampliar e fortalecer a divulgação da Doutrina Espírita pelo rádio, TV, internet e demais veículos de comunicação.
9) Estimular o relacionamento intra e interpessoal dos trabalhadores do Centro Espírita, buscando seu bem estar e a convivência fraterna indispensável à execução das tarefas.
10) Assegurar a unidade dos princípios doutrinários em todos os trabalhos realizados e divulgados como atividades espíritas.

Desta forma podemos constatar que há muito trabalho a ser desenvolvido, e isso deve ser motivo de grande satisfação para todos nós, pois servir a causa do Cristo é servir a causa do amor e do bem na humanidade.
Honremos o chamado para a tarefa a que fomos convocados a realizar, ajustando, cada vez mais, nossas condições de serviço aos ideais do Cristo e unindo-nos fraterna e solidariamente, para que o ”Senhor, ao chegar, encontre acabada a obra”.

XERXES LUNA

22 maio, 2010

O TRABALHO VOLUNTÁRIO NA CASA ESPÍRITA - O VOLUNTÁRIADO DO AMOR

O trabalho voluntário na casa espírita é um empreendimento de luz voltado para a edificação do amor na Humanidade, atendendo as recomendações de Nosso Senhor Jesus Cristo de que devemos nos amar uns aos outros como Ele nos amou. É tarefa que todo espírita de boa vontade deve realizar espontânea e naturalmente, com o coração cheio de alegria e felicidade.
Diante de uma realidade, onde o trabalho está associado a fontes de renda voltadas para as mais diversas necessidades do trabalhador, desenvolver atividades voluntárias em prol do bem estar social e espiritual do semelhante, sem auferir nenhuma remuneração financeira por isso é, indubitavelmente, exemplo sublime de acolhimento ao chamado de Nosso Senhor Jesus Cristo para a construção de uma nova relação do trabalho com a felicidade, realização e segurança da criatura humana.


RAZÕES QUE DEVEM MOTIVAR OS ESPÍRITAS A PARTICIPAREM, COM AMOR, DO TRABALHO VOLUNTÁRIO NA CASA ESPÍRITA.

a) O TRABALHO COMO TESTEMUNHO DA FÉ EM DEUS E EM JESUS.
Ter fé em DEUS e em JESUS não é, somente, acolher no íntimo SEUS ensinamentos, mas acima de tudo vivenciá-los. Demonstrá-la é dar a DEUS o que é de DEUS, é edificar o amor no coração, é expandir esse amor para as criaturas, é doar-se com alegria e dedicação para que a dor e o sofrimento sejam afugentados do nosso meio. Só isso bastaria para realizarmos nosso trabalho com alegria, sem falar da imensa felicidade de ter como companheiros de jornada os VOLUNTÁRIOS DE JESUS que habitam o plano espiritual da vida.

b) O TRABALHO COMO FONTE DE REALIZAÇÃO PESSOAL.
O conceito de realização pessoal, geralmente, está associado a ganhos financeiros, prestígio profissional, influência social, alcance do mais alto cargo no âmbito do trabalho, e as mais variadas conquistas particulares, para citar alguns aspectos que fundamentam tal conceito. Seus resultados, entretanto, visam, quase que unicamente, o bem estar e o prazer do seu agente, ficando o semelhante numa posição secundária. Esse modelo, contudo, por ser individualista, não tem concorrido para a felicidade sustentável da criatura humana uma vez que muitos dos seus adeptos não lograram êxito no seu propósito, pois a felicidade é uma conquista coletiva. Nesse contexto, a Doutrina Espírita, nos dá um novo paradigma de realização pessoal, uma nova forma de sentir prazer e satisfação intima. Esse novo modelo fundamenta-se no bem servir ao próximo, fazê-lo feliz, sem nenhuma recompensa exterior, pois estamos aqui para trabalharmos na edificação do amor no coração das criaturas, único caminho capaz de nos fazer sentir a felicidade plena e a sensação ímpar de realização.
Por atender plenamente a esse novo paradigma, o trabalho voluntário da casa espírita, nas suas mais variadas formas, devem ser vivenciados com muito desprendimento, dedicação, felicidade, esmero e carinho pois ao servimos a tantos necessitados e aflitos dos dois lados da vida e também aos benfeitores espirituais que nos assistem, é como se ao Cristo estivéssemos servindo.

c) O TRABALHO COMO CONTRIBUIÇÃO PARA UM MUNDO FUTURO MELHOR.
É certo que não vivemos num mundo ideal, haja vista os quadros de violência, injustiça, ganância, fome e miséria, que ainda fazem parte da nossa realidade. Se por si só, tais flagelos são indesejáveis, imagine-os atuando como fonte geradora do alimento necessário a fortificação de alguns encarnados e desencarnados comprometidos com a quebra da paz e da harmonia social. Este estado de coisas tem raízes, naturalmente, na ausência de fraternidade, solidariedade e amor entre as criaturas.
Sabemos também que esta não será nossa última reencarnação na Terra, pois ainda temos que aqui retornar para cumprir com outros compromissos relacionados com nosso programa evolutivo. Trabalhar hoje, no voluntariado do bem com essa lucidez de consciência, é plantar na sociedade e nas almas de tantos aflitos, e desencontrados na vida, sementes que, com o tempo, florescerão e darão os frutos apropriados a efetivação da paz e da concórdia entre as criaturas. Os efeitos desse labor, com toda certeza, sentiremos, em nossas futuras reencarnações.

d) O TRABALHO COMO FATOR DE REAJUSTE ESPIRITUAL E RECONCILIAÇÃO.
Sendo a Terra um mundo de expiações e provas, é de se esperar que seus habitantes, detentores dos mais variados graus evolutivos, guardem, relativa ou acentuada sintonia com os padrões éticos e morais desta categoria de mundo, causa geradora da maioria dos desentendimentos humanos.
Quando do seu surgimento, entretanto, Deus, no infinito de sua sabedoria, encaminha as partes envolvidas para espaços de convivência que favoreçam a restauração da concórdia e do entendimento, então fragilizados. A casa espírita, pela natureza dos seus propósitos na sociedade terrena, não poderia declinar do chamado divino, para acolher alguns desses irmãos em litígio, no sentido de favorecer sua reconciliação.
Dependendo do grau de discórdia, podem surgir comportamentos de risco para o processo evolutivo das partes e para a funcionalidade da própria instituição, todavia, a espiritualidade benfeitora estará atenta para que dano algum atinja a casa e a causa espírita, pois, no momento certo agirá, eficientemente, no sentido de restaurar a paz e a funcionalidade da instituição.
Ante a possibilidade dessa ocorrência reflitamos sobre duas situações delicadas: o confronto entre a dinâmica de trabalho do voluntário e aquela existente na instituição e o conflito motivado por ciúme ou vaidade.
Em ambos os casos é indispensável que, pelo menos uma das partes, busque ampliar sua visão do que é servir com amor a causa do Cristo através do Espiritismo. Essa amplitude de vista, fatalmente, as levará ao diálogo fraterno objetivando o reajuste imediato das relações, a compreensão de que nem sempre se pode alcançar tudo num só momento e de que o avanço paulatino das idéias e empreendimentos guarda seus méritos. Não nos precipitemos assumindo posturas de embates porque, se nossos propósitos forem corretos, mais adiante a espiritualidade benfeitora os farão efetivar-se, sem dano algum a obra e a casa. Nessas situações cabe-nos vigiar, renunciar a contenda, guardar sintonia com o Plano Espiritual Superior porque não interessa ao Espiritismo avanços que deixem no seu rastro desuniões, ódios, rancores, ou coisas similares, pois nossa Doutrina segue as pegadas do Cristo que nos recomenda amarmo-nos uns aos outros e perdoarmo-nos mutuamente para que não venhamos a sofrer futuramente.
Nos casos em que uma das partes se mantenha irredutível, cabe a outra dar seu testemunho de entendimento da lei do amor, recuando temporariamente do seu intento, continuando a exercer seu trabalho com dedicação e empenho, orando pelo(s) companheiro(s) que não o compreendem e acima de tudo tratando-os como irmãos.
Ao optarmos pela não agressividade ou pelo não confronto, estaremos arando o terreno, para no futuro, germinar com sucesso, a semente da reconciliação ora plantada. Um porvir que poderá ocorrer ainda na atual reencarnação.

e) O TRABALHO COMO RECURSO FAVORÁVEL A DESOBSESSÃO.
Sabemos que a obsessão estabelece-se em decorrência das imperfeições humanas, nas relações entre semelhantes, nesta ou em outras existências reencarnatórias e que sua intensidade está intimamente relacionada com os procedimentos e ações sintonizadas com o mal. O inimigo invisível ao perceber que sua vítima, mesmo com outra vestimenta corpórea, tem comportamento similar ao de outrora, sente-se estimulado a continuar sua vingança no intuito de causar-lhe desconfortos e dores desnecessárias. Se, ao contrário depara-se com seu desafeto, comportando-se de maneira totalmente diferente da anterior, como por exemplo, atuando como agente da misericórdia divina no alívio das dores dos semelhantes, ou mesmo contribuindo, com seu trabalho, para a felicidade de criaturas deste ou do outro lado da vida, a energia negativa que venha a liberar em direção a sua vítima será amortizada ou mesmo extinta, pois a força do bem, natural e espontâneo, lhe é superior.

Desta forma, e pelas inúmeras oportunidades de felicidade que o trabalho voluntário na casa espírita nos propicia, alistemo-nos nas suas fileiras e desenvolvamos nossas tarefas com muito amor, alegria, zelo, e dedicação. Afinal poucos são os que percebem que trabalhando no voluntariado do bem estão trabalhando ao lado de Jesus.
XERXES LUNA