29 outubro, 2013

ATENDIMENTO FRATERNO NA CASA ESPÍRITA

APRESENTAÇÃO
A sociedade vem, ao longo dos milênios, evoluindo bastante em ciência e tecnologia. As imperfeições morais – vaidade, orgulho, egoísmo, dentre outras – não são, entretanto, quase consideradas e acabam por funcionar como ervas daninhas que, aos poucos, distanciam os corações invigilantes do amar ao próximo como a si mesmo. As diferenças sociais, ademais, a cada momento são mais nítidas, crescentes e cruéis, o que também leva o homem a sentir o peso que representa afastar-se das questões espirituais, tão bem explicadas e exemplificadas nos ensinamentos evangélicos.
Por outro lado, se observarmos e refletirmos alguns momentos, perceberemos como são efêmeras as conquistas materiais e quão pouca valia terão para o nosso crescimento espiritual. Então, entenderemos que as crises de depressão, de angústias aparentemente infundadas, as síndromes de pânico e muitas outras enfermidades decorrem das nossas imperfeições morais não equacionadas e/ou eliminadas e de um estilo de vida que privilegia os bens materiais em detrimento dos valores morais.
Nesse contexto, e como reflexo, acompanhamos, nos últimos tempos, uma crescente busca por soluções nas diversas casas religiosas e, em especial, nas casas espíritas – que, longe dos modernismos, e com base no Espiritismo e no exercício do Evangelho, têm mantido suas portas abertas e contribuído para os esclarecimentos e para as soluções dos diversos problemas que afetam a humanidade.
Cabe, pois, às instituições espírita, por meio do Atendimento Fraterno – o “portal de entrada” – colocar a disposição do público trabalhadores esclarecidos e treinados, que apresentem um perfil adequado para o trabalho, e oferecer as condições materiais e espirituais necessárias para o desempenho dessa atividade espiritual de tão grande necessidade e importância.
                Desse modo, com fulcro no Orientação ao Centro Espírita, publicado pela Federação Espírita Brasileira – que afirma ser objetivo fundamental do Atendimento Fraterno “Acolher, de forma fraterna e solidária, dentro dos princípios do Evangelho à luz da Doutrina Espírita, ouvindo, orientando com respeito, atenção e humildade...” (1) as pessoas que  procuram a casa espírita para orientação e alívio dos seus sofrimentos – o Projeto “Amai-vos e Instruí-vos”, disponibiliza, a partir dos próximos informativos do “PAI”, o conteúdo da Apostila “Atendimento Fraterno na Casa Espírita”, com o intuito de contribuir, de alguma forma, para qualificar, espiritizar e humanizar a casa espírita, roteiro luminoso e tão generosamente indicado, para nós espíritas, pela benfeitora Joanna de Ângelis (2).
                Trata-se, portanto, de um trabalho publicado no ano de 2001 – revisto e atualizado em 2009 – baseado nos estudos do Evangelho e do Espiritismo e na experiência de mais de uma década de atividades no atendimento fraterno. Consubstanciou-se, além disso, para a escolha dos temas, nos debates efetivados em cinco encontros estaduais e em pesquisa empírica realizada numa amostra significativa dentre 5.042 casos de atendimento, no período de 01 ano, bem como nos depoimentos e avaliações realizadas pelos atendentes, o que possibilitou identificar também o melhor modo de realizar o atendimento fraterno e os casos mais frequentes.
                É com muita alegria, portanto, que compartilharemos com o Movimento Espírita os nossos singelos estudos e experiências sobre temas relevantes do Atendimento Fraterno, como: o atendente fraterno (perfil, comportamento, recepção, equipe, empatia, etc.), o atendido (principais casos abordados: idéias suicidas, obsessão, enfermidades físicas e psíquicas, entre outros), a Doutrina Espírita e a Evangelho Terapia (reforma íntima, fé, vontade e perseverança, pacificação,...).
                Que Deus, Jesus e a Espiritualidade Amiga, então, fortaleçam e protejam nossos pequenos esforços e iluminem todos os confrades e simpatizantes espíritas.
Otavio Pereira.

(1)    Franco, Divaldo Pereira. Novos Rumos para o Centro Espírita. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador-BA: Livraria Espírita Alvorada.
(2)    Federação Espírita Brasileira; Conselho Federativo Nacional. Orientação ao Centro Espírita. Resp. Antônio Cesar Perri de Carvalho. Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira, 2007.     

CONCEITO
O Atendimento Fraterno, consoante o Orientação ao Centro Espírita, publicado pela Federação Espírita Brasileira, consiste em receber fraternalmente aquele que busca o Centro Espírita, dandolhe a oportunidade de expor, livremente e em caráter privativo, suas dificuldades e necessidades. Trata-se, portanto, de uma atividade espírita em que, por meio do diálogo franco e fraterno, oferece-se ao indivíduo a possibilidade de explanar os seus desafios existenciais e as orientações e estímulos de que necessitam – podendo até, se for o caso, contribuir também com algumas noções doutrinárias, para a compreensão dos seus problemas –  encaminhando-o, em seguida, às atividades da Casa Espírita mais adequadas às suas necessidades.
Em um primeiro momento, observamos, assim, que esse tipo de atividade só pode ser adequadamente realizada por indivíduos que genuinamente abraçam uma filosofia fraterna e que estão disponíveis para o diálogo no setor das relações humanas, adotando, como consequência, uma atitude básica de não autoritarismo e de convicções e crenças otimistas na natureza humana.
Com base no que foi mencionado acima, podemos considerar como condições indispensáveis para a relação atendente-atendido o seguinte:
1. A disponibilidade para o outro – é o ponto de partida, primeiro contato entre o atendente e o atendido.
2. Considerar o atendido como pessoa e não como um problema.
3. Compreender que as pessoas possuem, em potencial, a capacidade de resolver, elas próprias, suas dificuldades, desde que lhes seja proporcionada uma oportunidade. Todos somos seres milenares e possuímos a semente divina em nossa constituição espiritual.
4. O atendente necessita atuar como catalisador, através de uma atitude de profundo espeito, aceitação, acolhimento, e confiança na capacidade de autocompreensão e autodeterminação do atendido.
5. Assimilar com clareza aquilo que o atendido está expressando. Para isso, é necessário escutar e não se limitar ao papel de observador, mas também de se colocar no lugar do outro, sabendo que não é o outro, ou seja – ser empático – pois essa atitude permite compreender e aceitar as pessoas como elas se apresentam.
6. Saber que a capacidade de aceitar o outro não é um traço que se adquire em cursos e nem só com a experiência, mas, sobretudo, com o exercício do amor ao próximo.
7. Ser autêntico (ser você mesmo, sem máscaras) e estar disponível para a atividade com todos seus atributos de discernimento e empatia, para que ocorra a aceitação, o acolhimento, a compreensão e a transmissão desses elementos para o atendido.
8. Possibilitar, sempre que possível, a clarificação e a reflexão dos sentimentos do atendido à luz do Evangelho de Jesus.
9. Evitar dizer o que o atendido deve fazer e compreender que os desafios existenciais são mecanismos divinos de evolução e que somente o próprio indivíduo é capaz de equacionar e eliminar os mesmos.
10. Evitar julgamentos e posicionamentos de caráter pessoal sobre os desafios alheios.
11. Indicar a fluidoterapia e destacar a importância de assistir as reuniões públicas, assim como de realizar o evangelho no lar.
12. Ressaltar, no final do atendimento e sempre que possível, os princípios básicos do espiritismo e como eles permitem à criatura a sua transformação interior, bem como a sua elevação como ser humano no mundo. 

FINALIDADE DO ATENDIMENTO FRATERNO
Propiciar consolação e conforto espiritual aos aflitos com vistas ao alívio de suas dores.
Encorajar os atendidos para enfrentarem seus problemas com fé, paciência, esperança e equilíbrio.
Estimular os desesperançados a ter ânimo para vencer os abatimentos provenientes dos revezes da vida.
Fazer triagem para encaminhamento aos serviços de orientação e assistência mantidos pela Casa.
Estimular, por meio da reflexão, a vivência dos sentimentos de fraternidade e solidariedade humana;
Conscientizar o atendido para desenvolver atitudes positivas.

DIRETRIZES PARA O  ATENDIMENTO FRATERNO

“Servir, na essência é amparar o outro no lugar e na situação de necessidade em que o outro esteja sem cogitar nem mesmo da opinião desfavorável que o outro expressa, de vez que nem todo enfermo aceita sem reclamar o remédio que se lhe aplica, não obstante o remédio lhe efetive a cura” André Luiz (Sol nas Almas, psicografado por Waldo Vieira).

1. Seguir as diretrizes da Casa Espírita;
2. O Atendente deve chegar pelo menos com 15 (quinze) minutos antes do início do atendimento, tomar um autopasse e preparar-se com a leitura de uma página do Evangelho e uma prece;
3. O local do atendimento deve ser reservado;
4. Atender separadamente cada pessoa
5.Nenhuma orientação deve ser diretiva e expressar opinião pessoal e sim da Doutrina;
6. Manter o sigilo sobre as informações recebidas durante o atendimento;
7. Recomendar a leitura de obras espíritas;
8. Recomendar a realização do Evangelho no Lar mostrando a sua importância na vida pessoal e familiar (no caso, se necessário, e se for do interesse do atendido, ensinar como o realizar);
9. É desaconselhável a manifestação mediúnica na presença dos atendidos;
10. No caso de manifestação mediúnica por parte do Atendido, o atendente, com carinho e firmeza, orientará a entidade e o médium, aplicando as técnicas necessárias enfatizando a necessidade de disciplina;
11. Em hipótese alguma se deve interferir na orientação ou receituários médicos, não interrompendo medicações e prescrições médicas, sob pretexto ou aconselhamento “espiritual”;
12. Encaminhar o atendido para outros setores da Casa Espírita, se for o caso;
13. Recomendar e encaminhar aos cursos, compatíveis com as faixas etárias, disponíveis na Casa, quando o Atendido demonstrar interesse pela Doutrina;
14. Levar em consideração que nem todos os problemas são de ordem obsessiva ou mediúnica e que muitos são de personalidade; Os atendentes deverão se reunir, periodicamente para discutir os casos tratados, além de estudar formas e meios para um desempenho mais eficiente do trabalho;
16. Obedecer ao horário de atendimento não excedendo os das atividades prescritos pela Casa Espírita;
17. O tempo de atendimento deve ficar em torno de 20 a 30 minutos, salvo em casos especiais.

A EQUIPE

“Que a vossa falange se arme, pois, de resolução e de coragem! Mãos a obra! A charrua está pronta; a terra espera; é preciso trabalhar”. Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX, item 4.

O trabalho de atender fraternalmente na casa espírita, de modo geral, requer uma equipe coesa e harmonizada com os princípios da codificação kardequiana e com a vivência evangélica, tão bem exemplificada por Jesus.
De forma básica, poderá ser composta por dois tipos de trabalhadores espíritas: um que realize a recepção dos interessados e outro que efetue o Atendimento Fraterno propriamente dito. Importa, ainda, que esses trabalhadores – especialmente o atendente fraterno – estejam aptos a realizar, caso seja necessário, a terapia do passe, para o alívio imediato dos irmãos necessitados.
Além disso, é necessário estar sempre consciente da grande responsabilidade que é ser um trabalhador do Cristo, do indispensável desenvolvimento da fé, da perseverança e, principalmente, do amor ao próximo, o que também exigirá um constante exercitar da paciência, da brandura e da intuição.

O ATENDENTE FRATERNO
 “Te encontras, quanto nós, entre aqueles que tanto recebem da Nova Revelação, perguntemos a nós mesmos o que damos em serviço e apoio, cooperação e amor, porque sendo o Espiritismo crédito e prestígio de Cristo entregues às nossas consciências endividadas, é natural que a conta e o rendimento que se relacionem com ele seja responsabilidade em nossas mãos”. Emmanuel (Opinião Espírita, psicografado por F.C.Xavier).

Em essência, o atendente fraterno é um cristão que busca se aperfeiçoar intimamente, sob a luz da Doutrina dos Espíritos e do Evangelho de Jesus, e que tem, na casa espírita, a oportunidade sublime de exercitar o seu aprendizado evangélico, a caridade e a fraternidade.
Sendo assim, uma das condições fundamentais para que o trabalhador espírita atue eficazmente no atendimento fraterno é exatamente buscar, de maneira  perseverante, realizar a sua reforma íntima, a sua melhoria moral. É imprescindível que tenha condições morais, embasamento doutrinário, maturidade e discernimento para lidar com situações, as mais diversas e muitas vezes inusitadas. Alguns requisitos, portanto, são necessários:
1. Boa moral
2. Amor ao próximo
3. Empatia
4. Conhecimento sólido da Doutrina Espírita e do Evangelho de Jesus 
5. Ser humilde, cônscio dos seus deveres e de suas limitações;
6. Indulgência para com as dificuldades e limitações do próximo
7. Oração e vigilância
8. Assiduidade em, pelo menos, uma reunião pública por semana
9. Tolerância sem conivência
10. Afabilidade e facilidade para diálogo
11. Responsabilidade com os compromissos assumidos
12. Discernimento e perspicácia no desempenho da tarefa
13. Escutar
14. Discrição, equilíbrio emocional, paciência, segurança e ponderação
15. Integração e conhecimento nas demais atividades da casa espírita
16. Dispensar, durante o atendimento, problemas, valores e experiências de caráter pessoal
17. Respeitar, aceitar e acolher o atendido. 
   
O ATENDENTE FRATERNO
Diretrizes Comportamentais
“O compromisso de trabalho inclui o dever de associa-se à criatura ao esforço de equipe na obra a realizar” André Luiz (Sinal Verde, psicografado por Chico Xavier).
                
Para além de todas as diretrizes cristãs que devem fazer parte da vida cotidiana de qualquer cristão, algumas orientações – oriundas dos estudos e das experiências adquiridas no desempenho da atividade do atendimento fraterno – facilitam e tornam mais seguro e qualificado o desempenho de tão nobre tarefa, tais como:
1. Conscientização do trabalho a ser realizado;
2. Amor ao próximo;
3. Preparação por meio do estudo;
4.  Manter-se em oração e vigilância para possibilitar uma boa sintonia com os Espíritos que o assiste na tarefa, aguçando a sua intuição, e não se deixar envolver pelos problemas dos entrevistados ou por Espíritos em desequilíbrio que por ventura os acompanhem;
5. Conhecimento das próprias limitações;
6. Empatia;
7. Respeito e discrição para com as vivências e desafios do outro;
8. Não emitir opiniões pessoais e orientar, exclusivamente, à luz da Doutrina Espírita;
9. Abstrair-se de seus problemas pessoais e ver no outro o problema maior;
10. Não julgar nenhum problema menor ou sem importância, dando a todos a mesma atenção, cortesia, compreensão e fraternidade (conversar sem pré-suposições, julgamentos, ou discriminações);
11. Ser humilde e saber que não lhe compete solucionar os desafios do outro e sim clarificá-lo com as diretrizes espíritas, pois, o objetivo principal do Atendimento Fraterno consiste em despertar no atendido a sua auto-atualização, para que ele mesmo aprenda por si a resolver seus problemas, uma vez que todo ser humano tem esta capacidade latente oriunda de experiências milenares.
12. Acreditar que toda criatura humana reúne dentro de si, latente, as condições de autocrescimento e para isso precisa ser despertada por meio de reflexões, à luz dos princípios espíritas;
13. Não se envolver intimamente com nenhum atendido, evitando conversas desnecessárias e que não estejam dentro do conteúdo da ajuda;
14. Lembrar que, normalmente, o atendido já recorreu a outras as formas de atendimento e de terapias  e, na maioria dos casos, aguarda soluções mágicas no Espiritismo, necessitando de ajuda em caráter emergencial ;
15. Não prometer ao atendido cura para seus males ou dificuldades existenciais;
16. Não prognosticar e nem fazer revelações;
17. Não indicar ou encaminhar pessoas para reuniões mediúnicas;
18. Não criticar nenhuma posição religiosa;
19. Colocar-se tranquilamente, ao inteiro dispor do atendido, passando a ouvi-lo com bondade e interesse, procurando infundir-lhe confiança e encorajamento, pois essa atitude o auxiliará a desvencilhar-se do estado de tensão ou expectativa, deixando-o mais à vontade para seu desabafo;
20. Conduzir o diálogo com objetividade e com brevidade adequada a cada caso, sem, no entanto, prolongá-lo demasiadamente, em respeito às demais pessoas que estão aguardando;
21. Desenvolver o diálogo numa linguagem acessível, num clima de naturalidade e fraternidade, sem demonstração de pretensa superioridade, sem a presunção de tudo resolver e fugindo de conversações chulas, discussões estéreis, contendas políticas, religiosas ou doutrinárias;
22. Conservar-se neutro, em especial, nas orientações sobre problemas sentimentais e familiares, em razão da delicadeza do assunto, e recomendar ao paciente a confiar em DEUS, a ouvir seu coração, a primar pela paz, harmonia e concórdia, a manter a disciplina mental e a buscar inspiração na prece;
23. Esclarecer que em todos os empreendimentos da beneficência e socorro divinos serão sempre considerados os fatores de merecimento e do esforço pessoal, porquanto não havendo privilégios que distingam as criaturas, a justiça divina funciona acima de tudo, atenuada pela misericórdia do amor;
24. Incentivar o atendido a buscar a sua reforma íntima, esclarecendo-lhe que quando vibramos em faixa superior, somos protegidos das agressões oriundas do desequilíbrio ou do desamor de encarnados ou desencarnados;
25. Destacar a importância da freqüência regular às Reuniões Públicas Espíritas, do passe, da leitura de obras doutrinárias e da realização do Evangelho no Lar;
26. Procurar durante o atendimento não exceder 30 minutos, por pessoa, exceto em casos excepcionais;
27. Falar com simplicidade, moderação no timbre de voz e, quando indagar, se for o caso, procurar não transformar o atendimento em interrogatório, não impor nada e nem sugerir idéias, uma vez que o trabalho é não-diretivo;
28. Atender as pessoas sem preferências, sem excepcionalidades, sem discriminações e sempre no local estabelecido pela Casa Espírita;
29. Prestar a atenção nas informações contidas na Ficha de Atendimento e promover o seu preenchimento correto;
30. Encerrar o trabalho com uma prece de agradecimento e se desligar dos problemas relatados pelos atendidos.

O ATENDENTE FRATERNO
O escutar muito mais do que o ouvir
O ouvir é apenas um ato perceptivo, a ação de um estímulo sobre um dos órgãos do sentido: o ouvido. Basta não ser surdo para que o fenômeno ocorra. É uma ação comum a todos os seres humanos e à grande maioria dos animais. Depois da visão é o ato perceptivo mais comum e essencial no processo de comunicação.
Quando se fala no “saber ouvir”, coloca-se um verbo seguido de outro, ou seja, uma ação atrelada à outra, é uma especialidade do ouvir, que corresponde a uma qualidade possível na criatura humana.
A Psicologia e principalmente a Psicanálise brindam a ciência com uma palavra mais precisa para nomear o ato de “saber ouvir” o próximo: o “escutar”. Freud, ao traçar as regras básicas que norteiam a técnica psicanalítica, formulou o conceito de “escuta flutuante”, que seria, em síntese, criar condições para que haja uma comunicação de inconsciente para inconsciente, em que o terapeuta, simbolicamente, fica “cego” para “ver melhor” (escutar sem selecionar o material recebido sem exercer julgamentos).
Este ensinamento freudiano sendo parafraseado atende perfeitamente ao “saber ouvir”, ou seja, o “escutar” do atendente fraterno.
Na medida em que o atendente se isenta de suas experiências pessoais e se disponibiliza a amar ao próximo, tenderá a manter uma comunicação de perispírito para perispírito e, assim, compreender melhor a necessidade de quem procura o Atendimento Fraterno da Casa Espírita.
A escuta transcende, portanto, qualquer conceito fisiológico, não se restringindo à fria comunicação entre dois seres. Ela procura, ademais, entender o outro, não só através das palavras ditas, mas também na expressão do sentimento que muitas vezes se aloja nas entrelinhas no primeiro momento da fala e que, geralmente, se assemelha a um monólogo.
O escutar é o que possibilita o surgimento da intuição e se constitui numa expressão de amor ao próximo.
Quem procura o Atendimento Fraterno na Casa Espírita, de um modo geral, enrouqueceu de tanto suplicar por ajuda. Sua voz misturou-se no torvelinho das explicações inúteis; dos conselhos dos falsos profetas; nas terapêuticas farmacológicas (que só atende a matéria); nas esperanças infundidas por milagreiros; entre outras.
O escutar é encurtar o caminho entre o ouvido e o coração, nas palavras de André Luiz, no livro Opinião Espírita: “São muitos os que cambaleiam desorientados, à míngua de tolerância. Convém, no entanto, frisar que palavras não lhe escasseiam. Falta-lhe o silêncio de um coração amigo, com bastante amor para ungir-lhe à alma, no bálsamo da compreensão, e por este motivo, desfalecem na luta, a feição do motor que se desajusta sem óleo”.
Logo, o atendente fraterno ao escutar deve (dever é o verbo correto, pois é uma obrigação daquele que se relaciona com o próximo necessitado) exercer a humildade e a caridade, esquecer seus problemas, ainda que pareçam maiores, sufocar suas dores e desalentos, não julgar as pessoas que lhe narram suas desditas, não se mostrar superior e nem levantar falsas expectativas.
Além disso, aquele que escuta no Atendimento Fraterno se constitui num instrumento a serviço da Espiritualidade Amiga.
Assim, recomenda-se ao atendente fraterno que, ao usar a palavra, que ela não seja vazia e nem vã, mas que represente um auxílio e que seja consoladora, a fim de que o atendido possa compreender a sua situação à luz do Cristo e que as soluções estão sempre disponíveis dentro dele, isto é, a reforma íntima associada à fé, à vontade e à perseverança e aos princípios divinos.

EMPATIA
Como o atendente fraterno pode conseguir resultados positivos em sua atividade de auxílio ao necessitado que procura a Casa Espírita? Esta resposta implica em uma série de variáveis: formação éticomoral, conhecimento da Doutrina Espírita, bom relacionamento interpessoal, autoconhecimento, capacidade de diálogo consigo mesmo, auto-estima, consciência de si, empatia, autenticidade, aceitação, compreensão, entre outras.
Dentre as variáveis enumeradas, a que mais deve identificar o atendente é a capacidade empática, que, de modo geral, retrata a possibilidade de se estabelecer influência e interação da personalidade. Rollo May diz que: “empatia – significa um estado de identificação mais profundo das personalidades, em que a pessoa se sente tão dentro da outra que chega a perder temporariamente a sua identidade. É nesse profundo e tanto misterioso processo de empatia que ocorrem a compreensão, a influência e outras relações significativas entre as pessoas”.
Como se pode perceber, pelo que descreve o autor citado, toda ajuda que busque aliviar o sofrimento do próximo tem que passar pelo mecanismo da empatia. A compreensão da dificuldade do outro passa pelo sentir como o outro e só poderá ser estabelecida a partir do momento da escuta. No momento da fala do atendido e da escuta do atendente, deve haver uma fusão psíquica, um momento misterioso, aparentemente mágico. Há uma identificação perispiritual. É como se o atendente pudesse ter a inserção do problema do outro na sua raiz, na sua origem. “A empatia ocorre no momento em que um ser humano fala com o outro. É impossível compreender outro indivíduo se não for possível, ao mesmo tempo, identificar-se com ele... Se buscarmos a origem dessa capacidade de agir e sentir como se fossemos outra pessoa, iremos encontrá-la na existência de um sentimento social inato. Na realidade, ela é um sentimento cósmico e um reflexo do encadeamento de todo o cosmo que vive em nós. É uma característica inevitável do ser humano”. 1
Convém salientar que a estrutura de personalidade do atendido não muda com as orientações não diretivas do atendente. As orientações e indicações funcionam como elementos motivadores para a reforma íntima que está respaldada na boa ou má utilização do livre-arbítrio. Somado às orientações, as indicações terapêutica-espirituais servem para minorar o sofrimento do atendido. A estrutura de personalidade do atendido somente mudará quando ele, de livre e espontânea vontade, fizer brilhar a sua luz voltando-se para dentro de si mesmo. Ajudá-lo a fazer uma reflexão sobre os seus sentimentos é trabalho do Atendente Fraterno – e não dar conselhos ou orientar diretivamente – e dessa forma, empaticamente despertar e estimular uma atitude reflexiva.
Só a utilização ampla da empatia será capaz de mostrar os melhores caminhos na amplidão dos Evangelhos.
A empatia fornece o elemento básico capaz de promover a mudança: a influência.
1 MAY, Rollo. A Arte do Aconselhamento Psicológico, 1976, p.68.

AUTOESTIMA
Ao se falar sobre auto-estima, que conceitualmente é “o sentimento da importância ou valor de alguém por si mesmo”, qual o objetivo que se busca? Poderíamos dizer que seria despertar, em cada um dos leitores interessados, a revisão de si mesmo e suas relações inter e intrapsíquicas, o que facilita a relação durante o Atendimento Fraterno.
As pessoas não se compreendem através ou apenas por conceitos. São um pouco mais complexas as variáveis que se lhes apresentam e são muitas, principalmente diante dos papéis que se vêem a desempenhar no dia a dia. Portanto, se caminhará um pouco além das tramas conceituais. As palavras ditas ou escritas servirão apenas como forma de comunicação, nunca como definições ou fórmulas prontas. Olhem-se como pessoas se relacionando. É por meio da capacidade de relacionamento consigo e com os outros, que os indivíduos são distinguidos de todas as criaturas conhecidas e os tornam pessoas.
O poder, a capacidade que o homem detém de dobrar-se sobre si mesmo e de fazer uma leitura interna e de estar cônscio e livre, de afetividade encontrar-se com seu semelhante, mostra que ele não apenas pensa, ele se caracteriza pela reflexão – “capacidade de estabelecer uma relação íntima e insubstituível consigo mesmo”. Pascal afirma: “o universo é maior que o homem e o esmaga com sua grandeza, mas o homem é maior que o universo, pois o universo não sabe o que está esmagando, mas o homem é esmagado e sabe o que o está esmagando”. Ele intui que é um ser que existe sob o determinismo espiritual e que o livre-arbítrio o faz livre a cada reencarnação, para sua destinação futura.
Não basta saber, mas saber que sabe, não basta sofrer, mas saber que sofre; não basta viver e morrer, mas saber que se vive e se morre. É isto que faz do homem mais que um objeto, e, que quando reflete sobre si mesmo é para se conhecer naquilo que o faz um eu. Embora saiba muitas coisas daquilo que o envolve, desconhece muito daquilo que é. As pessoas se detêm geralmente naquilo que elas representam e esquecem aquilo que foram em reencarnações anteriores.
Sendo impossível separar os sentimento, os desejos, os medos, os incentivos, o homem se coloca, automaticamente, em contato constante e de maneira espontânea e assistemática com eles, o que o instituí como senhor de si mesmo e não um ser autômato dirigido por forças externas. Entretanto, ao longo de sua existência terrestre, descobre nos primeiros reveses sua fraqueza e um relacionamento com forças desconhecidas, que em princípio denomina de destino, quando mais esclarecido descobre sua relação com a espiritualidade, ai então se consuma a crença em Deus e na amorosidade de Jesus.
                O que faz do homem uma pessoa, um ser existencial capaz de julgar a vida dele sob um ponto de vista positivo ou negativo e dar-lhe um rumo adequado, é a consciência de si. Cabe, então, o argumento de Allport quando diz: “a personalidade é organização dinâmica dos sistemas psicofísicos que, num indivíduo lhe determina a adaptação original ao seu meio”. A grande questão é guardar-se de si mesmo, reconquistar-se e refazer-se. Porém, nuca esquecendo que este processo funciona a partir da reforma íntima.

A consciência de si impede que o homem coloque sua pessoa no lugar onde não está. Portanto, a individualidade não é suficiente para determinar a pessoa, mas acrescenta-lhe uma certa dignidade. O homem procura saber o que representa para outrem, vai descobrir que ele é uma realidade determinada, mas diferente do que julgava ser, uma vez que na sua tripla constituição: matéria, espírito e perispírito, se vê colocado diante de uma perspectiva espiritualmente estruturada. Não é uma realidade própria, mas uma constante fusão, fluídica e maleável. Os desligados de si são protagonistas passivos da sua própria existência, sujeitos a influências espirituais negativas, ou melhor, obsessivas.
Tem-se que a consciência é uma subjetividade a manifestar-se em experiência em um único sujeito. É, sem dúvida, importante a imagem do corpo, reflexo do espírito, que muitas vezes se observa como atributo social. Mas uma outra condição da consciência de si é a nomeação desta imagem. O nome personifica, qualifica e encera o mistério de cada um. A consciência de si não é uma consulta a um arquivo morto, é a identificação de processos e de forças, dentre as quais a auto-estima.
A auto-estima é integração de valores, sentimento e a importância de si que mantém as relações com o físico, a produção de julgamentos éticos, estéticos morais que comportam objetivos preestabelecidos e leva a pessoa à identificação com os resultados. É neste espaço que ocorre o sentimento de inferioridade, iminentemente social, que é capaz de desencadear mecanismos de defesa contra si e os outros. Um destes mecanismos é o recalque e este recalque significa que não se quer olhar para si como pessoa, por ignorância, por preguiça ou por influenciação obsessiva.
A relação satisfatória consigo mesmo é para quem tem coragem de ver suas exigências pessoais atendidas e se não, compreender e reformulá-las diante da inexorabilidade dos compromissos reencarnatórios. Mas este ver não implica e aceitação tácita, todo processo humano é dinâmico, o homem deve procurar sua melhoria.  Muitas de suas potencialidades nunca chegam a realizar-se. Mas esta não realização e que nos dá a capacidade de buscar, evoluir, enfim de procurar a utópica completude.
Quando indivíduo propõe a si um mergulho interno para o seu conhecimento, admite que não é portador de conhecimentos prévios. Significa que vai iluminando as suas trevas primárias, com o fogo vital na relação com o ambiente, ou seja, um conhecimento prático teorizado a posteriori, pois só assim se realiza diante dos conhecimentos cristalizados sob o véu do nascimento. Esta experiência do conhecimento é que mostra a liberdade relativa em que se vive utilizando o livre-arbítrio.  O absoluto inexiste para o ser enquanto ser encarnado.
Na relação consigo mesmo, naturalmente, conduzido a uma conversa interna e um diálogo, nunca um monólogo. Esta conversa interna de perguntas e respostas significa se conhecer naquilo lhe faz ser um indivíduo personalizado. Deve ser autor, diretor e intérprete do espetáculo que é a sua existência. Quando se evita este diálogo situa-se através do medo, do tabu de penetrar em seus segredos. Esta exitação torna a pessoa ignorante. Procuram-se, então, soluções mágicas. Logo, se pode concluir que se é na medida em que se comunica consigo e com os outros. E por via de conseqüência, tem-se uma imagem que pode se despersonalizar.
A vontade, capacidade de dirigir as energias psicofísicas para uma única meta, leva a criatura a arquitetar o seu destino, arbitrando o que é que se revela como pessoa. Pois quem não escolhe e que não determina o que é bem e bom para si, delega o direito aos outros de escolha.
O desejo, que ordenado pela vontade, mas que tem outra origem, usa a afetividade como forma de se satisfazer, cabe aqui a afirmação de Jung: “não se pode amar a outrem que primeiro não amar a si; o primeiro mendigo a quem devemos acolher somos nós mesmos”, o que é compatível com o maior dos mandamentos da lei. Não se duvida que a auto-afirmação, impulso poderoso que levas às realizações pessoais, é meta prioritária. Quando não se quer mais, não se decide, não se escolhe, reduz-se a mero fantoche.
Os sentimentos, forma de expressar na relação com as coisas, pessoas e consigo mesmo, são a percepção de como se vê, melhor ainda, na reação ao ambiente. Portanto, uma vez que se é mais do que pensar, se é o sentir que afeta, atinge, toca intimamente, é irrecusavelmente, o si mesmo. Alguém a quem se liga aos outros e liga-se a si mesmo. Se é na medida que se sente. Se o sentimento é a expressão da afetividade, se pode concluir que não basta refletir para existir, tem que se sentir, pois a energia básica é a afetividade. E essa afetividade é fruto da semente do amor pleno, lançada em cada ser humano por Jesus, corroborada por seus Evangelhos.
Dir-se-ia que a relação afetiva implica num sistema de perguntas e respostas que quando não respondidas geram ansiedade. Ela é mais intensa quando advém da falta de coragem de perguntar, com medo que não haja respostas para ela. O que também é válido para a agressividade. Em ambos os casos terão reflexos nos relacionamentos interpessoais. Só é sensato em agir consigo mesmo, quem sente seu próprio valor. Ora, então quem não se mobilizar afetivamente com sua própria existência é o mesmo que se ter rejeitado. É necessário que se libere das repressões afetivas, para sentir-se ligados pelo sentimento do amor amplo e irrestrito, inclusive pelos inimigos. Mas se esta liberação da repressão levar à desvalorização ou a um desligamento de si, fatalmente surge a alienação, ou seja, um processo obsessivo, tem-se que evitá-la.
Há de se tomar cuidado para não se isolar, pois isolamento pode também, causar a despersonalização. Uma vez que a pessoa não é só intra-relação, ela é também objeto de inter-relação intensa.
A criança se desenvolve mediante o processo de interseção com outras, aonde vai se conhecer. Mas o conhecimento que tem de outrem não vale mais do que tem dela mesmo. É neste processo de interseção e interdependência que se existe como animal, como pessoa e, principalmente, como ser dotado de um espírito, que é a própria inteligência vinculada à matéria através do perispírito. Entretanto, esta relação é mantida através de um processo de comunicação que permite que eu seja em relação a mim e ao outro e que o outro também seja. Contudo, quando faltam quaisquer vínculos humanos e espirituais, perece em cada uma a potencialidade de personalização.
Como podemos verificar no estudo de Maslow sobre a hierarquia das necessidades, em qualquer momento da vida, a criatura continua a necessitar de uma valorização pessoal, de um inter-relacionamento satisfatório. Uma certa dose de insegurança é imprescindível para o gozo mínimo de saúde psíquica. Portanto, à medida que se cresce não diminui em si necessidade de amor. Por conseguinte, pode-se dizer com reservas, que os problemas psíquicos se resumem numa necessidade de valorização. Amar adultamente é descobrir o valor e valorizar, é aceitar esta valorização e se esforçar por mantê-la em si e no próximo.
Considerando a saúde psíquica ou equilíbrio como meta a ser conquistada, ver-se-á que nunca o é definitivamente, se está sempre na busca diuturna de mantê-la ou reconquistá-la, e nesta reconquista, ou se descobre uma essência pessoal inatingível, ou condena a si ao fracasso. Nessa linha de raciocínio descobre-se que uma paixão não revela uma afetividade superior, e sim uma exacerbação afetiva causada pela imaturidade, frustração ou apego excessivo à matéria.
Ser livre é ser responsável por si mesmo, mas nunca esquecendo que só se pode sê-lo na medida em que pode responsabilizar-se pelo outro, pois, para que ele seja, se precisa ser. Quanto mais se é autenticamente um eu mesmo, uma pessoa tanto mais existe, não para um ego estéril, mas uma fecunda inter-relação com o seu semelhante.
A reflexão não é um monólogo, é um diálogo que ocorre no íntimo de cada um. Ela não passa de um exercício de bom senso, da descoberta, do desenvolvimento, da proclamação, enfim de aceitar-se como se é, para que se possa mudar.
As relações humanas existem e se desenvolvem através de mecanismos que são chamados de comunicação. Se ela não existisse a sociedade não funcionaria. O instrumento privilegiado da comunicação é a linguagem, e é ela que permite as inter-relações. Esta comunicação é tão importante que Deus permite que se desenvolva entre os dois mundos. E é com a ferramenta da comunicação que o Atendimento Fraterno pode prestar sua ajuda aos encarnados e desencarnados devolvendo-lhes a auto-estima.

REFORMA ÍNTIMA
No nível de consciência em que vivem a maioria das pessoas, viagens, passeios, distrações e excursões ajudam a relaxar e a aliviar o estresse do dia-a-dia.
A incursão, a viagem interior, a introspecção, no entanto, parece ser o desejo latente em cada uma das criaturas que almejam se melhorar espiritualmente. Não se trata de uma simples viagem de observação. É uma viagem transcendental, onde cada um irá percorrer a sua estrada. São estradas longas, estreitas, sinuosas, tendo em seus percursos inúmeros abismos, charcos, desertos; depressões e elevações em sua topografia e em seus leitos, pedregulhos, lama e espinhos; porque assim as criaturas se construíram.
Essa viagem, por ser transcendental, se divide em várias fases curtas, denominadas existências, e caberá ao viajante, no uso de seu livre-arbítrio, fé, vontade e perseverança para seguir mais rápido e com mais segurança, ou demorar-se e estacionar nos trechos mais difíceis. Não importa quando se chegará à reta final, nem o tempo para o percurso; o que importa é caminhar sem cessar e saber que chegará.
Definir o caminho a seguir, nessa existência, é o objetivo que se deve buscar e a reflexão será a sinalização, o balizamento da estrada e a avaliação do caminho percorrido. A viagem transcendental consciente tem início a partir do momento que a criatura se identifica consigo mesma, procura autoconhecer-se, se auto-avalia e deseja mudar, mudar para melhor, a fim de diminuir seus sofrimentos.
Dessa forma, o atendente fraterno deve, no exercício de sua atividade, levar o atendido à reflexão, com base em algumas sugestões a seguir elencadas, bem como, e em primeiro lugar, fazer a sua própria reflexão.

1ª REFLEXÃO – DEUS EM NÓS
Sendo Deus a inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as coisas, quem é o homem senão uma criatura, um espírito que se maculou ao longo das existências,  e que agora busca a volta ao regaço do Pai, através da experiência da reencarnação expiatória?
Onde está escrita a Lei de Deus?
“Na nossa consciência.” 1
Visto que o homem traz em sua consciência a Lei de Deus, que
necessidade havia de lhe ser revelada?
“Ele a esquecera e desprezara. Quis então Deus que lhe fosse
lembrada.” 2
“Deus está em nós com suas leis, segundo o nosso nível de
consciência.” 3
2ª REFLEXÃO – O GRANDE MANDAMENTO
A Lei do Amor deve pautar todos os pensamentos, palavras e ações do ser humano, pois está centrada nos dois princípios maiores da Lei: “Amareis o Senhor vosso Deus de todo o vosso coração, de toda vossa alma, de todo o vosso espírito” e “Amareis vosso próximo como a vós mesmos”. 4
CARIDADE... CARIDADE... CARIDADE – AMOR... AMOR... AMOR.
“Dá o que possas, em auxílio aos outros, no entanto, envolve de simpatia e compreensão tudo aquilo que dês. Cada pessoa com a qual entres em contato é uma página do livro que estás escrevendo com a própria vida. Colabora, quanto possível, no bem dos semelhantes sem exigir remunerações”. 5
“O amor é tão maravilhoso, que basta o desejo de abrigá-lo no íntimo e ei-lo que se encontra embrionário, passando a germinar e desenvolver-se. O amor é o verdadeiro milagre da vida. Frágil, é portador de força incomum. Assemelha-se a essa persistência e poder do débil vegetal, que medra em solo coberto de cimento e asfalto, enfrentando todos os impedimentos, e ali ergue sua pequenina e delicada folha verde de esperança”. 6
“Amar é dever de todas as criaturas, e ninguém pode se eximir de fazê-lo. Esse amor deve ser incondicional, chegando à totalidade como experiência de auto-iluminação e de autolibertação. Enquanto o ser humano se encontra nas faixas predominantes do ego, ata-se aos caprichos escravizadores que são decorrentes dessa atitude primária. No entanto, à medida que ama, dilui as amarras dolorosas e experimenta a alegria da liberdade em verdadeiro hino de louvor. Altera-se lhe então, a paisagem da emoção, e todo ele se transforma em um feixe de ternura, de ação dignificante, de paz irradiante”. 7
1 Allan Kardec – O Livro dos Espíritos, questão 621.
2 Allan Kardec – O Livro dos Espíritos, questão 621a.
3 Divaldo P. Franco – Provas Científicas da Reencarnação, Palestra em 23/11/2000.
4 Mateus: 22, 34 a 40.
5 Emmanuel (Paciência – psicografia de Francisco Cândido Xavier).
6 Joanna de Ângelis (O Despertar do Espírito – psicografia de Divaldo Pereira Franco).
7 Joanna de Ângelis (Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda – psicografia de Divaldo Pereira Franco).

3ª REFLEXÃO – CÓDIGO PENAL DA VIDA FUTURA
Nenhuma transgressão da Lei deixará de ser cobrada. Não se passará impune. Se o livre-arbítrio permitiu à criatura errar, a Justiça Divina se fará presente para que ela repare o seu erro, na mesma ou em outra encarnação.
“Em que pese a diversidade de gêneros e graus de sofrimento dos espíritos imperfeitos, o código penal da vida futura pode resumir-se nestes princípios”:
1º - O sofrimento é inerente à imperfeição;
2º - Toda imperfeição, assim como toda falta dela resultante, traz consigo o próprio castigo nas consequências naturais e inevitáveis (...);
3º - Podendo todo homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode igualmente anular os males consecutivos e assegurar a futura felicidade.
“A cada um segundo suas obras, no Céu como na Terra : - tal é a lei da Justiça Divina”. Allan Kardec – (O Céu e o Inferno – Cap. VII, item 33).
“O arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta por si só; são necessárias: a expiação e a reparação”. Arrependimento, expiação e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza os travos da expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação, contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão seria uma graça, não uma anulação”. Allan Kardec - (O Céu e o Inferno – cap. VII item 16)
“Cada um leva para a outra vida e traz, ao nascer, a semente do passado”. Somos hoje o resultado das experiências vividas no passado, como seremos amanhã, o produto de nossas ações hoje”. (Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor).

4ª REFLEXÃO – O AUTOCONHECIMENTO
O olhar para dentro de si e reconhecer cada espaço, cada ponto obscuro, cada mazela, cada erro, enfim, conhecer os limites que são determinados pela condição do ser humano. Pois, só esse olhar revelador será capaz de conduzir o homem à sua regeneração através de sua submissão a Deus.
“Qual o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e resistir à atração do mal?”.
Um sábio da antiguidade vo-lo disse: “Conhece-te a ti mesmo”.
Conhecemos toda sabedoria dessa máxima, porém a dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de consegui-lo?
Fazei o que eu fazia, quando vivia na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não faltava algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele que, todas as noites evocasse todas as ações que praticara durante o dia e inquirisse de si mesmo o bem ouo mal que houvesse feito, rogando a Deus e ao seu anjo da guarda que o esclarece, grande força adquiriria para se aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmo perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizeste alguma coisa que, feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis confessar. (...) O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso individual (...). Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se sinta possuído do desejo sério de melhorar-se a fim de extirpar de si os maus pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas (...).” (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos questão 919, respondida por Santo Agostinho)”.
“A pessoa que ainda não se encontrou, não é capaz de se encontrar com ninguém.” (Divaldo Pereira Franco – Os Ideais Espíritas e o Despertar do Terceiro Milênio – 31/12/1998).
“Enquanto nosso inconsciente não nos revelar, nós continuaremos pessoas desconhecidas de nós mesmos (Divaldo Pereira Franco – Workshop Auto-Descobrimento 09/04/1995)”.
“Fiz a viagem exterior agora quero fazer a viagem interior. Estou na busca interior de mim mesmo”. (Edgar Mitchell – Astronauta da Apolo XIV que pisou a Lua em fev/1971 – Programa Fantástico, Rede Globo, 31/12/00).
Otavio Pereira e Linberto Fonseca


28 outubro, 2013

Material - Atendimento Fraterno

Como combinado, o material referente ao Atendimento Fraterno está disponível no link abaixo.

Atendimento_Fraterno.pdf