25 dezembro, 2013
29 outubro, 2013
ATENDIMENTO FRATERNO NA CASA ESPÍRITA
APRESENTAÇÃO
A
sociedade vem, ao longo dos milênios,
evoluindo bastante em ciência e tecnologia. As imperfeições morais – vaidade, orgulho, egoísmo, dentre outras –
não são, entretanto, quase consideradas e acabam por funcionar como ervas
daninhas que, aos poucos, distanciam os corações invigilantes do amar ao
próximo como a si mesmo. As diferenças sociais, ademais, a cada momento são
mais nítidas, crescentes e cruéis, o que também leva o homem a sentir o peso
que representa afastar-se das questões espirituais, tão bem explicadas e
exemplificadas nos ensinamentos evangélicos.
Por
outro lado, se observarmos e refletirmos alguns momentos, perceberemos como são
efêmeras as conquistas materiais e quão pouca valia terão para o nosso
crescimento espiritual. Então, entenderemos que as crises de depressão, de
angústias aparentemente infundadas, as síndromes de pânico e muitas outras enfermidades
decorrem das nossas imperfeições morais não equacionadas e/ou eliminadas e de
um estilo de vida que privilegia os bens materiais em detrimento dos valores
morais.
Nesse
contexto, e como reflexo, acompanhamos, nos últimos tempos, uma crescente busca
por soluções nas diversas casas religiosas e, em especial, nas casas espíritas – que, longe dos
modernismos, e com base no Espiritismo e no exercício do Evangelho, têm mantido
suas portas abertas e contribuído para os esclarecimentos e para as soluções
dos diversos problemas que afetam a humanidade.
Cabe,
pois, às instituições espírita, por meio do Atendimento
Fraterno – o “portal de entrada” – colocar a disposição do público
trabalhadores esclarecidos e treinados, que apresentem um perfil adequado para
o trabalho, e oferecer as condições materiais e espirituais necessárias para o
desempenho dessa atividade espiritual de tão grande necessidade e importância.
Desse modo, com fulcro no Orientação ao Centro Espírita, publicado
pela Federação Espírita Brasileira – que afirma ser objetivo fundamental do Atendimento
Fraterno “Acolher, de forma fraterna e solidária, dentro dos princípios do
Evangelho à luz da Doutrina Espírita, ouvindo, orientando com respeito, atenção
e humildade...” (1) as pessoas que procuram
a casa espírita para orientação e alívio dos seus sofrimentos – o Projeto “Amai-vos e Instruí-vos”,
disponibiliza, a partir dos próximos informativos do “PAI”, o conteúdo da
Apostila “Atendimento Fraterno na Casa
Espírita”, com o intuito de contribuir, de alguma forma, para qualificar, espiritizar e humanizar a
casa espírita, roteiro luminoso e tão generosamente indicado, para nós
espíritas, pela benfeitora Joanna de Ângelis (2).
Trata-se, portanto, de um
trabalho publicado no ano de 2001 – revisto e atualizado em 2009 – baseado nos
estudos do Evangelho e do Espiritismo e na experiência de mais de uma década de
atividades no atendimento fraterno. Consubstanciou-se, além disso, para a
escolha dos temas, nos debates efetivados em cinco encontros estaduais e em
pesquisa empírica realizada numa amostra significativa dentre 5.042 casos de
atendimento, no período de 01 ano, bem como nos depoimentos e avaliações
realizadas pelos atendentes, o que possibilitou identificar também o melhor
modo de realizar o atendimento fraterno e os casos mais frequentes.
É com muita alegria, portanto,
que compartilharemos com o Movimento Espírita os nossos singelos estudos e
experiências sobre temas relevantes do Atendimento Fraterno, como: o atendente
fraterno (perfil, comportamento, recepção, equipe, empatia, etc.), o atendido
(principais casos abordados: idéias suicidas, obsessão, enfermidades físicas e
psíquicas, entre outros), a Doutrina Espírita e a Evangelho Terapia (reforma
íntima, fé, vontade e perseverança, pacificação,...).
Que Deus, Jesus e a
Espiritualidade Amiga, então, fortaleçam e protejam nossos pequenos esforços e
iluminem todos os confrades e simpatizantes espíritas.
Otavio Pereira.
(1) Franco, Divaldo Pereira. Novos Rumos para o Centro Espírita. Pelo Espírito Joanna de Ângelis.
Salvador-BA: Livraria Espírita Alvorada.
(2) Federação Espírita Brasileira; Conselho Federativo
Nacional. Orientação ao Centro Espírita.
Resp. Antônio Cesar Perri de Carvalho. Rio de Janeiro: Federação Espírita
Brasileira, 2007.
CONCEITO
O Atendimento
Fraterno, consoante o Orientação ao Centro Espírita, publicado pela Federação
Espírita Brasileira, consiste em receber fraternalmente aquele que busca o
Centro Espírita, dandolhe a oportunidade de expor, livremente e em caráter
privativo, suas dificuldades e necessidades. Trata-se, portanto, de uma
atividade espírita em que, por meio do diálogo franco e fraterno, oferece-se ao
indivíduo a possibilidade de explanar os seus desafios existenciais e as
orientações e estímulos de que necessitam – podendo até, se for o caso,
contribuir também com algumas noções doutrinárias, para a compreensão dos seus
problemas – encaminhando-o, em seguida,
às atividades da Casa Espírita mais adequadas às suas necessidades.
Em um primeiro
momento, observamos, assim, que esse tipo de atividade só pode ser
adequadamente realizada por indivíduos que genuinamente abraçam uma filosofia
fraterna e que estão disponíveis para o diálogo no setor das relações humanas,
adotando, como consequência, uma atitude básica de não autoritarismo e de
convicções e crenças otimistas na natureza humana.
Com base no que foi
mencionado acima, podemos considerar como condições indispensáveis para a
relação atendente-atendido o seguinte:
1. A
disponibilidade para o outro – é o ponto de partida, primeiro contato entre o
atendente e o atendido.
2. Considerar o
atendido como pessoa e não como um problema.
3. Compreender que
as pessoas possuem, em potencial, a capacidade de resolver, elas próprias, suas
dificuldades, desde que lhes seja proporcionada uma oportunidade. Todos somos
seres milenares e possuímos a semente divina em nossa constituição espiritual.
4. O atendente
necessita atuar como catalisador, através de uma atitude de profundo espeito,
aceitação, acolhimento, e confiança na capacidade de autocompreensão e
autodeterminação do atendido.
5. Assimilar com
clareza aquilo que o atendido está expressando. Para isso, é necessário escutar
e não se limitar ao papel de observador, mas também de se colocar no lugar do
outro, sabendo que não é o outro, ou seja – ser empático – pois essa atitude
permite compreender e aceitar as pessoas como elas se apresentam.
6. Saber que a
capacidade de aceitar o outro não é um traço que se adquire em cursos e nem só
com a experiência, mas, sobretudo, com o exercício do amor ao próximo.
7. Ser autêntico
(ser você mesmo, sem máscaras) e estar disponível para a atividade com todos
seus atributos de discernimento e empatia, para que ocorra a aceitação, o
acolhimento, a compreensão e a transmissão desses elementos para o atendido.
8. Possibilitar,
sempre que possível, a clarificação e a reflexão dos sentimentos do atendido à
luz do Evangelho de Jesus.
9. Evitar dizer o
que o atendido deve fazer e compreender que os desafios existenciais são
mecanismos divinos de evolução e que somente o próprio indivíduo é capaz de
equacionar e eliminar os mesmos.
10. Evitar
julgamentos e posicionamentos de caráter pessoal sobre os desafios alheios.
11. Indicar a
fluidoterapia e destacar a importância de assistir as reuniões públicas, assim como
de realizar o evangelho no lar.
12. Ressaltar, no
final do atendimento e sempre que possível, os princípios básicos do
espiritismo e como eles permitem à criatura a sua transformação interior, bem
como a sua elevação como ser humano no mundo.
FINALIDADE DO ATENDIMENTO FRATERNO
Propiciar consolação e conforto espiritual
aos aflitos com vistas ao alívio de suas dores.
Encorajar os atendidos para enfrentarem seus
problemas com fé, paciência, esperança e equilíbrio.
Estimular os desesperançados a ter ânimo para
vencer os abatimentos provenientes dos revezes da vida.
Fazer triagem para encaminhamento aos
serviços de orientação e assistência mantidos pela Casa.
Estimular, por meio da reflexão, a vivência
dos sentimentos de fraternidade e solidariedade humana;
Conscientizar o atendido para desenvolver
atitudes positivas.
DIRETRIZES
PARA O ATENDIMENTO FRATERNO
“Servir, na essência é amparar o outro
no lugar e na situação de necessidade em que o outro esteja sem cogitar nem
mesmo da opinião desfavorável que o outro expressa, de vez que nem todo enfermo
aceita sem reclamar o remédio que se lhe aplica, não obstante o remédio lhe
efetive a cura” André Luiz (Sol nas Almas, psicografado por Waldo Vieira).
1. Seguir as diretrizes da Casa Espírita;
2. O Atendente deve chegar pelo menos com 15
(quinze) minutos antes do início do atendimento, tomar um autopasse e
preparar-se com a leitura de uma página do Evangelho e uma prece;
3. O local do atendimento deve ser
reservado;
4. Atender separadamente cada pessoa
5.Nenhuma orientação deve ser diretiva e
expressar opinião pessoal e sim da Doutrina;
6. Manter o sigilo sobre as informações
recebidas durante o atendimento;
7. Recomendar a leitura de obras espíritas;
8. Recomendar a realização do Evangelho no
Lar mostrando a sua importância na vida pessoal e familiar (no caso, se
necessário, e se for do interesse do atendido, ensinar como o realizar);
9. É desaconselhável a manifestação
mediúnica na presença dos atendidos;
10. No caso de manifestação mediúnica por parte
do Atendido, o atendente, com carinho e firmeza, orientará a entidade e o
médium, aplicando as técnicas necessárias enfatizando a necessidade de
disciplina;
11. Em hipótese alguma se deve interferir na
orientação ou receituários médicos, não interrompendo medicações e prescrições
médicas, sob pretexto ou aconselhamento “espiritual”;
12. Encaminhar o atendido para outros
setores da Casa Espírita, se for o caso;
13. Recomendar e encaminhar aos cursos,
compatíveis com as faixas etárias, disponíveis na Casa, quando o Atendido
demonstrar interesse pela Doutrina;
14. Levar em consideração que nem todos os
problemas são de ordem obsessiva ou mediúnica e que muitos são de
personalidade; Os atendentes deverão se reunir, periodicamente para discutir os
casos tratados, além de estudar formas e meios para um desempenho mais
eficiente do trabalho;
16. Obedecer ao horário de atendimento não
excedendo os das atividades prescritos pela Casa Espírita;
17. O tempo de atendimento deve ficar em
torno de 20 a 30 minutos, salvo em casos especiais.
A EQUIPE
“Que a vossa falange se arme, pois, de resolução e de
coragem! Mãos a obra! A charrua está pronta; a terra espera; é preciso
trabalhar”. Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. XX, item 4.
O
trabalho de atender fraternalmente na casa espírita, de modo geral, requer uma
equipe coesa e harmonizada com os princípios da codificação kardequiana e com a
vivência evangélica, tão bem exemplificada por Jesus.
De
forma básica, poderá ser composta por dois tipos de trabalhadores espíritas: um
que realize a recepção dos interessados e outro que efetue o Atendimento
Fraterno propriamente dito. Importa, ainda, que esses trabalhadores –
especialmente o atendente fraterno – estejam aptos a realizar, caso seja
necessário, a terapia do passe, para o alívio imediato dos irmãos necessitados.
Além
disso, é necessário estar sempre consciente da grande responsabilidade que é
ser um trabalhador do Cristo, do indispensável desenvolvimento da fé, da
perseverança e, principalmente, do amor
ao próximo, o que também exigirá um constante exercitar da paciência, da
brandura e da intuição.
O ATENDENTE FRATERNO
“Te encontras, quanto
nós, entre aqueles que tanto recebem da Nova Revelação, perguntemos a nós
mesmos o que damos em serviço e apoio, cooperação e amor, porque sendo o
Espiritismo crédito e prestígio de Cristo entregues às nossas consciências
endividadas, é natural que a conta e o rendimento que se relacionem com ele
seja responsabilidade em nossas mãos”. Emmanuel (Opinião Espírita, psicografado
por F.C.Xavier).
Em
essência, o atendente fraterno é um cristão que busca se aperfeiçoar
intimamente, sob a luz da Doutrina dos Espíritos e do Evangelho de Jesus, e que
tem, na casa espírita, a oportunidade sublime de exercitar o seu aprendizado evangélico,
a caridade e a fraternidade.
Sendo
assim, uma das condições fundamentais para que o trabalhador espírita atue
eficazmente no atendimento fraterno é exatamente buscar, de maneira perseverante, realizar a sua reforma íntima,
a sua melhoria moral. É imprescindível que tenha condições morais, embasamento
doutrinário, maturidade e discernimento para lidar com situações, as mais
diversas e muitas vezes inusitadas. Alguns requisitos, portanto, são
necessários:
1. Boa moral
2. Amor ao próximo
3. Empatia
4. Conhecimento
sólido da Doutrina Espírita e do Evangelho de Jesus
5. Ser humilde, cônscio dos seus deveres e de suas
limitações;
6. Indulgência para
com as dificuldades e limitações do próximo
7. Oração e
vigilância
8. Assiduidade em,
pelo menos, uma reunião pública por semana
9. Tolerância sem
conivência
10. Afabilidade e
facilidade para diálogo
11.
Responsabilidade com os compromissos assumidos
12. Discernimento e
perspicácia no desempenho da tarefa
13. Escutar
14. Discrição,
equilíbrio emocional, paciência, segurança e ponderação
15. Integração e
conhecimento nas demais atividades da casa espírita
16. Dispensar,
durante o atendimento, problemas, valores e experiências de caráter pessoal
17. Respeitar,
aceitar e acolher o atendido.
O ATENDENTE FRATERNO
Diretrizes
Comportamentais
“O compromisso de trabalho inclui o dever de associa-se à
criatura ao esforço de equipe na obra a realizar” André Luiz (Sinal Verde,
psicografado por Chico Xavier).
Para além de todas as diretrizes
cristãs que devem fazer parte da vida cotidiana de qualquer cristão, algumas
orientações – oriundas dos estudos e das experiências adquiridas no desempenho
da atividade do atendimento fraterno – facilitam e tornam mais seguro e
qualificado o desempenho de tão nobre tarefa, tais como:
1. Conscientização
do trabalho a ser realizado;
2. Amor ao próximo;
3. Preparação por
meio do estudo;
4. Manter-se em oração e vigilância para
possibilitar uma boa sintonia com os Espíritos que o assiste na tarefa,
aguçando a sua intuição, e não se deixar envolver pelos problemas dos
entrevistados ou por Espíritos em desequilíbrio que por ventura os acompanhem;
5. Conhecimento das
próprias limitações;
6. Empatia;
7. Respeito e
discrição para com as vivências e desafios do outro;
8. Não emitir
opiniões pessoais e orientar, exclusivamente, à luz da Doutrina Espírita;
9. Abstrair-se de
seus problemas pessoais e ver no outro o problema maior;
10. Não julgar
nenhum problema menor ou sem importância, dando a todos a mesma atenção,
cortesia, compreensão e fraternidade (conversar sem pré-suposições,
julgamentos, ou discriminações);
11. Ser humilde e
saber que não lhe compete solucionar os desafios do outro e sim clarificá-lo
com as diretrizes espíritas, pois, o objetivo principal do Atendimento Fraterno
consiste em despertar no atendido a sua auto-atualização, para que ele mesmo
aprenda por si a resolver seus problemas, uma vez que todo ser humano tem esta
capacidade latente oriunda de experiências milenares.
12. Acreditar que
toda criatura humana reúne dentro de si, latente, as condições de
autocrescimento e para isso precisa ser despertada por meio de reflexões, à luz
dos princípios espíritas;
13. Não se envolver
intimamente com nenhum atendido, evitando conversas desnecessárias e que não
estejam dentro do conteúdo da ajuda;
14. Lembrar que,
normalmente, o atendido já recorreu a outras as formas de atendimento e de
terapias e, na maioria dos casos,
aguarda soluções mágicas no Espiritismo, necessitando de ajuda em caráter
emergencial ;
15. Não prometer ao
atendido cura para seus males ou dificuldades existenciais;
16. Não
prognosticar e nem fazer revelações;
17. Não indicar ou
encaminhar pessoas para reuniões mediúnicas;
18. Não criticar
nenhuma posição religiosa;
19. Colocar-se
tranquilamente, ao inteiro dispor do atendido, passando a ouvi-lo com bondade e
interesse, procurando infundir-lhe confiança e encorajamento, pois essa atitude
o auxiliará a desvencilhar-se do estado de tensão ou expectativa, deixando-o
mais à vontade para seu desabafo;
20. Conduzir o
diálogo com objetividade e com brevidade adequada a cada caso, sem, no entanto,
prolongá-lo demasiadamente, em respeito às demais pessoas que estão aguardando;
21. Desenvolver o
diálogo numa linguagem acessível, num clima de naturalidade e fraternidade, sem
demonstração de pretensa superioridade, sem a presunção de tudo resolver e
fugindo de conversações chulas, discussões estéreis, contendas políticas,
religiosas ou doutrinárias;
22. Conservar-se
neutro, em especial, nas orientações sobre problemas sentimentais e familiares,
em razão da delicadeza do assunto, e recomendar ao paciente a confiar em DEUS,
a ouvir seu coração, a primar pela paz, harmonia e concórdia, a manter a
disciplina mental e a buscar inspiração na prece;
23. Esclarecer que
em todos os empreendimentos da beneficência e socorro divinos serão sempre
considerados os fatores de merecimento e do esforço pessoal, porquanto não
havendo privilégios que distingam as criaturas, a justiça divina funciona acima
de tudo, atenuada pela misericórdia do amor;
24. Incentivar o
atendido a buscar a sua reforma íntima, esclarecendo-lhe que quando vibramos em
faixa superior, somos protegidos das agressões oriundas do desequilíbrio ou do
desamor de encarnados ou desencarnados;
25. Destacar a
importância da freqüência regular às Reuniões Públicas Espíritas, do passe, da
leitura de obras doutrinárias e da realização do Evangelho no Lar;
26. Procurar
durante o atendimento não exceder 30 minutos, por pessoa, exceto em casos
excepcionais;
27. Falar com
simplicidade, moderação no timbre de voz e, quando indagar, se for o caso,
procurar não transformar o atendimento em interrogatório, não impor nada e nem
sugerir idéias, uma vez que o trabalho é não-diretivo;
28. Atender as
pessoas sem preferências, sem excepcionalidades, sem discriminações e sempre no
local estabelecido pela Casa Espírita;
29. Prestar a
atenção nas informações contidas na Ficha de Atendimento e promover o seu preenchimento
correto;
30. Encerrar o
trabalho com uma prece de agradecimento e se desligar dos problemas relatados
pelos atendidos.
O ATENDENTE FRATERNO
O escutar muito
mais do que o ouvir
O
ouvir é apenas um ato perceptivo, a ação de um estímulo sobre um dos órgãos do
sentido: o ouvido. Basta não ser surdo para que o fenômeno ocorra. É uma ação
comum a todos os seres humanos e à grande maioria dos animais. Depois da visão
é o ato perceptivo mais comum e essencial no processo de comunicação.
Quando
se fala no “saber ouvir”, coloca-se um verbo seguido de outro, ou seja, uma
ação atrelada à outra, é uma especialidade do ouvir, que corresponde a uma
qualidade possível na criatura humana.
A
Psicologia e principalmente a Psicanálise brindam a ciência com uma palavra mais
precisa para nomear o ato de “saber ouvir” o próximo: o “escutar”. Freud, ao
traçar as regras básicas que norteiam a técnica psicanalítica, formulou o
conceito de “escuta flutuante”, que seria, em síntese, criar condições para que
haja uma comunicação de inconsciente para inconsciente, em que o terapeuta,
simbolicamente, fica “cego” para “ver melhor” (escutar sem selecionar o
material recebido sem exercer julgamentos).
Este
ensinamento freudiano sendo parafraseado atende perfeitamente ao “saber ouvir”,
ou seja, o “escutar” do atendente fraterno.
Na
medida em que o atendente se isenta de suas experiências pessoais e se
disponibiliza a amar ao próximo, tenderá a manter uma comunicação de
perispírito para perispírito e, assim, compreender melhor a necessidade de quem
procura o Atendimento Fraterno da Casa Espírita.
A
escuta transcende, portanto, qualquer conceito fisiológico, não se restringindo
à fria comunicação entre dois seres. Ela procura, ademais, entender o outro,
não só através das palavras ditas, mas também na expressão do sentimento que
muitas vezes se aloja nas entrelinhas no primeiro momento da fala e que,
geralmente, se assemelha a um monólogo.
O
escutar é o que possibilita o surgimento da intuição e se constitui numa
expressão de amor ao próximo.
Quem
procura o Atendimento Fraterno na Casa Espírita, de um modo geral, enrouqueceu
de tanto suplicar por ajuda. Sua voz misturou-se no torvelinho das explicações
inúteis; dos conselhos dos falsos profetas; nas terapêuticas farmacológicas
(que só atende a matéria); nas esperanças infundidas por milagreiros; entre
outras.
O
escutar é encurtar o caminho entre o ouvido e o coração, nas palavras de André
Luiz, no livro Opinião Espírita: “São
muitos os que cambaleiam desorientados, à míngua de tolerância. Convém, no
entanto, frisar que palavras não lhe escasseiam. Falta-lhe o silêncio de um
coração amigo, com bastante amor para ungir-lhe à alma, no bálsamo da
compreensão, e por este motivo, desfalecem na luta, a feição do motor que se
desajusta sem óleo”.
Logo,
o atendente fraterno ao escutar deve (dever é o verbo correto, pois é uma
obrigação daquele que se relaciona com o próximo necessitado) exercer a
humildade e a caridade, esquecer seus problemas, ainda que pareçam maiores,
sufocar suas dores e desalentos, não julgar as pessoas que lhe narram suas
desditas, não se mostrar superior e nem levantar falsas expectativas.
Além
disso, aquele que escuta no Atendimento Fraterno se constitui num instrumento a
serviço da Espiritualidade Amiga.
Assim,
recomenda-se ao atendente fraterno que, ao usar a palavra, que ela não seja
vazia e nem vã, mas que represente um auxílio e que seja consoladora, a fim de
que o atendido possa compreender a sua situação à luz do Cristo e que as
soluções estão sempre disponíveis dentro dele, isto é, a reforma íntima
associada à fé, à vontade e à perseverança e aos princípios divinos.
EMPATIA
Como
o atendente fraterno pode conseguir resultados positivos em sua atividade de
auxílio ao necessitado que procura a Casa Espírita? Esta resposta implica em
uma série de variáveis: formação éticomoral, conhecimento da Doutrina Espírita,
bom relacionamento interpessoal, autoconhecimento, capacidade de diálogo consigo
mesmo, auto-estima, consciência de si, empatia, autenticidade, aceitação,
compreensão, entre outras.
Dentre
as variáveis enumeradas, a que mais deve identificar o atendente é a capacidade
empática, que, de modo geral, retrata a possibilidade de se estabelecer
influência e interação da personalidade. Rollo May diz que: “empatia –
significa um estado de identificação mais profundo das personalidades, em que a
pessoa se sente tão dentro da outra que chega a perder temporariamente a sua
identidade. É nesse profundo e tanto misterioso processo de empatia que ocorrem
a compreensão, a influência e outras relações significativas entre as pessoas”.
Como
se pode perceber, pelo que descreve o autor citado, toda ajuda que busque
aliviar o sofrimento do próximo tem que passar pelo mecanismo da empatia. A
compreensão da dificuldade do outro passa pelo sentir como o outro e só poderá
ser estabelecida a partir do momento da escuta. No momento da fala do atendido
e da escuta do atendente, deve haver uma fusão psíquica, um momento misterioso,
aparentemente mágico. Há uma identificação perispiritual. É como se o atendente
pudesse ter a inserção do problema do outro na sua raiz, na sua origem. “A
empatia ocorre no momento em que um ser humano fala com o outro. É impossível
compreender outro indivíduo se não for possível, ao mesmo tempo, identificar-se
com ele... Se buscarmos a origem dessa capacidade de agir e sentir como se
fossemos outra pessoa, iremos encontrá-la na existência de um sentimento social
inato. Na realidade, ela é um sentimento cósmico e um reflexo do encadeamento
de todo o cosmo que vive em nós. É uma característica inevitável do ser
humano”. 1
Convém
salientar que a estrutura de personalidade do atendido não muda com as
orientações não diretivas do atendente. As orientações e indicações funcionam
como elementos motivadores para a reforma íntima que está respaldada na boa ou
má utilização do livre-arbítrio. Somado às orientações, as indicações
terapêutica-espirituais servem para minorar o sofrimento do atendido. A
estrutura de personalidade do atendido somente mudará quando ele, de livre e
espontânea vontade, fizer brilhar a sua luz voltando-se para dentro de si
mesmo. Ajudá-lo a fazer uma reflexão sobre os seus sentimentos é trabalho do
Atendente Fraterno – e não dar conselhos ou orientar diretivamente – e dessa
forma, empaticamente despertar e estimular uma atitude reflexiva.
Só
a utilização ampla da empatia será capaz de mostrar os melhores caminhos na
amplidão dos Evangelhos.
A
empatia fornece o elemento básico capaz de promover a mudança: a influência.
1 MAY, Rollo. A
Arte do Aconselhamento Psicológico, 1976, p.68.
AUTOESTIMA
Ao
se falar sobre auto-estima, que conceitualmente é “o sentimento da importância
ou valor de alguém por si mesmo”, qual o objetivo que se busca? Poderíamos
dizer que seria despertar, em cada um dos leitores interessados, a revisão de
si mesmo e suas relações inter e intrapsíquicas, o que facilita a relação
durante o Atendimento Fraterno.
As
pessoas não se compreendem através ou apenas por conceitos. São um pouco mais
complexas as variáveis que se lhes apresentam e são muitas, principalmente
diante dos papéis que se vêem a desempenhar no dia a dia. Portanto, se
caminhará um pouco além das tramas conceituais. As palavras ditas ou escritas servirão
apenas como forma de comunicação, nunca como definições ou fórmulas prontas.
Olhem-se como pessoas se relacionando. É por meio da capacidade de
relacionamento consigo e com os outros, que os indivíduos são distinguidos de
todas as criaturas conhecidas e os tornam pessoas.
O
poder, a capacidade que o homem detém de dobrar-se sobre si mesmo e de fazer
uma leitura interna e de estar cônscio e livre, de afetividade encontrar-se com
seu semelhante, mostra que ele não apenas pensa, ele se caracteriza pela
reflexão – “capacidade de estabelecer uma relação íntima e insubstituível
consigo mesmo”. Pascal afirma: “o universo é maior que o homem e o esmaga com
sua grandeza, mas o homem é maior que o universo, pois o universo não sabe o
que está esmagando, mas o homem é esmagado e sabe o que o está esmagando”. Ele
intui que é um ser que existe sob o determinismo espiritual e que o
livre-arbítrio o faz livre a cada reencarnação, para sua destinação futura.
Não
basta saber, mas saber que sabe, não basta sofrer, mas saber que sofre; não
basta viver e morrer, mas saber que se vive e se morre. É isto que faz do homem
mais que um objeto, e, que quando reflete sobre si mesmo é para se conhecer
naquilo que o faz um eu. Embora saiba muitas coisas daquilo que o envolve, desconhece
muito daquilo que é. As pessoas se detêm geralmente naquilo que elas
representam e esquecem aquilo que foram em reencarnações anteriores.
Sendo
impossível separar os sentimento, os desejos, os medos, os incentivos, o homem
se coloca, automaticamente, em contato constante e de maneira espontânea e
assistemática com eles, o que o instituí como senhor de si mesmo e não um ser
autômato dirigido por forças externas. Entretanto, ao longo de sua existência
terrestre, descobre nos primeiros reveses sua fraqueza e um relacionamento com
forças desconhecidas, que em princípio denomina de destino, quando mais
esclarecido descobre sua relação com a espiritualidade, ai então se consuma a
crença em Deus e na amorosidade de Jesus.
O
que faz do homem uma pessoa, um ser existencial capaz de julgar a vida dele sob
um ponto de vista positivo ou negativo e dar-lhe um rumo adequado, é a
consciência de si. Cabe, então, o argumento de Allport quando diz: “a
personalidade é organização dinâmica dos sistemas psicofísicos que, num
indivíduo lhe determina a adaptação original ao seu meio”. A grande questão é
guardar-se de si mesmo, reconquistar-se e refazer-se. Porém, nuca esquecendo
que este processo funciona a partir da reforma íntima.
A
consciência de si impede que o homem coloque sua pessoa no lugar onde não está.
Portanto, a individualidade não é suficiente para determinar a pessoa, mas
acrescenta-lhe uma certa dignidade. O homem procura saber o que representa para
outrem, vai descobrir que ele é uma realidade determinada, mas diferente do que
julgava ser, uma vez que na sua tripla constituição: matéria, espírito e
perispírito, se vê colocado diante de uma perspectiva espiritualmente
estruturada. Não é uma realidade própria, mas uma constante fusão, fluídica e
maleável. Os desligados de si são protagonistas passivos da sua própria
existência, sujeitos a influências espirituais negativas, ou melhor,
obsessivas.
Tem-se
que a consciência é uma subjetividade a manifestar-se em experiência em um
único sujeito. É, sem dúvida, importante a imagem do corpo, reflexo do
espírito, que muitas vezes se observa como atributo social. Mas uma outra
condição da consciência de si é a nomeação desta imagem. O nome personifica,
qualifica e encera o mistério de cada um. A consciência de si não é uma
consulta a um arquivo morto, é a identificação de processos e de forças, dentre
as quais a auto-estima.
A
auto-estima é integração de valores, sentimento e a importância de si que
mantém as relações com o físico, a produção de julgamentos éticos, estéticos
morais que comportam objetivos preestabelecidos e leva a pessoa à identificação
com os resultados. É neste espaço que ocorre o sentimento de inferioridade,
iminentemente social, que é capaz de desencadear mecanismos de defesa contra si
e os outros. Um destes mecanismos é o recalque e este recalque significa que
não se quer olhar para si como pessoa, por ignorância, por preguiça ou por
influenciação obsessiva.
A
relação satisfatória consigo mesmo é para quem tem coragem de ver suas
exigências pessoais atendidas e se não, compreender e reformulá-las diante da
inexorabilidade dos compromissos reencarnatórios. Mas este ver não implica e
aceitação tácita, todo processo humano é dinâmico, o homem deve procurar sua
melhoria. Muitas de suas potencialidades
nunca chegam a realizar-se. Mas esta não realização e que nos dá a capacidade
de buscar, evoluir, enfim de procurar a utópica completude.
Quando
indivíduo propõe a si um mergulho interno para o seu conhecimento, admite que
não é portador de conhecimentos prévios. Significa que vai iluminando as suas
trevas primárias, com o fogo vital na relação com o ambiente, ou seja, um
conhecimento prático teorizado a posteriori, pois só assim se realiza diante
dos conhecimentos cristalizados sob o véu do nascimento. Esta experiência do
conhecimento é que mostra a liberdade relativa em que se vive utilizando o
livre-arbítrio. O absoluto inexiste para
o ser enquanto ser encarnado.
Na
relação consigo mesmo, naturalmente, conduzido a uma conversa interna e um
diálogo, nunca um monólogo. Esta conversa interna de perguntas e respostas
significa se conhecer naquilo lhe faz ser um indivíduo personalizado. Deve ser
autor, diretor e intérprete do espetáculo que é a sua existência. Quando se
evita este diálogo situa-se através do medo, do tabu de penetrar em seus
segredos. Esta exitação torna a pessoa ignorante. Procuram-se, então, soluções
mágicas. Logo, se pode concluir que se é na medida em que se comunica consigo e
com os outros. E por via de conseqüência, tem-se uma imagem que pode se
despersonalizar.
A
vontade, capacidade de dirigir as energias psicofísicas para uma única meta,
leva a criatura a arquitetar o seu destino, arbitrando o que é que se revela
como pessoa. Pois quem não escolhe e que não determina o que é bem e bom para si,
delega o direito aos outros de escolha.
O
desejo, que ordenado pela vontade, mas que tem outra origem, usa a afetividade
como forma de se satisfazer, cabe aqui a afirmação de Jung: “não se pode amar a
outrem que primeiro não amar a si; o primeiro mendigo a quem devemos acolher
somos nós mesmos”, o que é compatível com o maior dos mandamentos da lei. Não
se duvida que a auto-afirmação, impulso poderoso que levas às realizações
pessoais, é meta prioritária. Quando não se quer mais, não se decide, não se escolhe,
reduz-se a mero fantoche.
Os
sentimentos, forma de expressar na relação com as coisas, pessoas e consigo
mesmo, são a percepção de como se vê, melhor ainda, na reação ao ambiente.
Portanto, uma vez que se é mais do que pensar, se é o sentir que afeta, atinge,
toca intimamente, é irrecusavelmente, o si mesmo. Alguém a quem se liga aos
outros e liga-se a si mesmo. Se é na medida que se sente. Se o sentimento é a
expressão da afetividade, se pode concluir que não basta refletir para existir,
tem que se sentir, pois a energia básica é a afetividade. E essa afetividade é
fruto da semente do amor pleno, lançada em cada ser humano por Jesus, corroborada
por seus Evangelhos.
Dir-se-ia
que a relação afetiva implica num sistema de perguntas e respostas que quando
não respondidas geram ansiedade. Ela é mais intensa quando advém da falta de
coragem de perguntar, com medo que não haja respostas para ela. O que também é
válido para a agressividade. Em ambos os casos terão reflexos nos
relacionamentos interpessoais. Só é sensato em agir consigo mesmo, quem sente
seu próprio valor. Ora, então quem não se mobilizar afetivamente com sua
própria existência é o mesmo que se ter rejeitado. É necessário que se libere
das repressões afetivas, para sentir-se ligados pelo sentimento do amor amplo e
irrestrito, inclusive pelos inimigos. Mas se esta liberação da repressão levar
à desvalorização ou a um desligamento de si, fatalmente surge a alienação, ou
seja, um processo obsessivo, tem-se que evitá-la.
Há
de se tomar cuidado para não se isolar, pois isolamento pode também, causar a
despersonalização. Uma vez que a pessoa não é só intra-relação, ela é também
objeto de inter-relação intensa.
A
criança se desenvolve mediante o processo de interseção com outras, aonde vai
se conhecer. Mas o conhecimento que tem de outrem não vale mais do que tem dela
mesmo. É neste processo de interseção e interdependência que se existe como
animal, como pessoa e, principalmente, como ser dotado de um espírito, que é a
própria inteligência vinculada à matéria através do perispírito. Entretanto,
esta relação é mantida através de um processo de comunicação que permite que eu
seja em relação a mim e ao outro e que o outro também seja. Contudo, quando
faltam quaisquer vínculos humanos e espirituais, perece em cada uma a
potencialidade de personalização.
Como
podemos verificar no estudo de Maslow sobre a hierarquia das necessidades, em
qualquer momento da vida, a criatura continua a necessitar de uma valorização
pessoal, de um inter-relacionamento satisfatório. Uma certa dose de insegurança
é imprescindível para o gozo mínimo de saúde psíquica. Portanto, à medida que
se cresce não diminui em si necessidade de amor. Por conseguinte, pode-se dizer
com reservas, que os problemas psíquicos se resumem numa necessidade de
valorização. Amar adultamente é descobrir o valor e valorizar, é aceitar esta
valorização e se esforçar por mantê-la em si e no próximo.
Considerando
a saúde psíquica ou equilíbrio como meta a ser conquistada, ver-se-á que nunca
o é definitivamente, se está sempre na busca diuturna de mantê-la ou
reconquistá-la, e nesta reconquista, ou se descobre uma essência pessoal
inatingível, ou condena a si ao fracasso. Nessa linha de raciocínio descobre-se
que uma paixão não revela uma afetividade superior, e sim uma exacerbação
afetiva causada pela imaturidade, frustração ou apego excessivo à matéria.
Ser
livre é ser responsável por si mesmo, mas nunca esquecendo que só se pode sê-lo
na medida em que pode responsabilizar-se pelo outro, pois, para que ele seja,
se precisa ser. Quanto mais se é autenticamente um eu mesmo, uma pessoa tanto
mais existe, não para um ego estéril, mas uma fecunda inter-relação com o seu
semelhante.
A
reflexão não é um monólogo, é um diálogo que ocorre no íntimo de cada um. Ela
não passa de um exercício de bom senso, da descoberta, do desenvolvimento, da
proclamação, enfim de aceitar-se como se é, para que se possa mudar.
As
relações humanas existem
e se desenvolvem através de mecanismos que são chamados de comunicação. Se ela
não existisse a sociedade não funcionaria. O instrumento
privilegiado da comunicação é a linguagem, e é ela que permite as
inter-relações. Esta comunicação é tão importante que Deus permite que se
desenvolva entre os dois mundos. E é com a ferramenta da comunicação que o
Atendimento Fraterno pode prestar sua ajuda aos encarnados e desencarnados
devolvendo-lhes a auto-estima.
REFORMA ÍNTIMA
No
nível de consciência em que vivem a maioria das pessoas, viagens, passeios,
distrações e excursões ajudam a relaxar e a aliviar o estresse do dia-a-dia.
A
incursão, a viagem interior, a introspecção, no entanto, parece ser o desejo
latente em cada uma das criaturas que almejam se melhorar espiritualmente. Não
se trata de uma simples viagem de observação. É uma viagem transcendental, onde
cada um irá percorrer a sua estrada. São estradas longas, estreitas, sinuosas,
tendo em seus percursos inúmeros abismos, charcos, desertos; depressões e
elevações em sua topografia e em seus leitos, pedregulhos, lama e espinhos;
porque assim as criaturas se construíram.
Essa
viagem, por ser transcendental, se divide em várias fases curtas, denominadas
existências, e caberá ao viajante, no uso de seu livre-arbítrio, fé, vontade e
perseverança para seguir mais rápido e com mais segurança, ou demorar-se e
estacionar nos trechos mais difíceis. Não importa quando se chegará à reta
final, nem o tempo para o percurso; o que importa é caminhar sem cessar e saber
que chegará.
Definir
o caminho a seguir, nessa existência, é o objetivo que se deve buscar e a
reflexão será a sinalização, o balizamento da estrada e a avaliação do caminho
percorrido. A viagem transcendental consciente tem início a partir do momento
que a criatura se identifica consigo mesma, procura autoconhecer-se, se
auto-avalia e deseja mudar, mudar para melhor, a fim de diminuir seus
sofrimentos.
Dessa
forma, o atendente fraterno deve, no exercício de sua atividade, levar o
atendido à reflexão, com base em algumas sugestões a seguir elencadas, bem
como, e em primeiro lugar, fazer a sua própria reflexão.
1ª REFLEXÃO – DEUS EM NÓS
Sendo
Deus a inteligência suprema do Universo, causa primária de todas as coisas,
quem é o homem senão uma criatura, um espírito que se maculou ao longo das
existências, e que agora busca a volta
ao regaço do Pai, através da experiência da reencarnação expiatória?
Onde está escrita a
Lei de Deus?
“Na nossa
consciência.” 1
Visto que o homem
traz em sua consciência a Lei de Deus, que
necessidade havia
de lhe ser revelada?
“Ele a esquecera e
desprezara. Quis então Deus que lhe fosse
lembrada.” 2
“Deus está em nós
com suas leis, segundo o nosso nível de
consciência.” 3
2ª REFLEXÃO – O GRANDE MANDAMENTO
A Lei do Amor deve
pautar todos os pensamentos, palavras e ações do ser humano, pois está centrada
nos dois princípios maiores da Lei: “Amareis o Senhor vosso Deus de todo o
vosso coração, de toda vossa alma, de todo o vosso espírito” e “Amareis vosso
próximo como a vós mesmos”. 4
CARIDADE...
CARIDADE... CARIDADE – AMOR... AMOR... AMOR.
“Dá
o que possas, em auxílio aos outros, no entanto, envolve de simpatia e
compreensão tudo aquilo que dês. Cada pessoa com a qual entres em contato é uma
página do livro que estás escrevendo com a própria vida. Colabora, quanto
possível, no bem dos semelhantes sem exigir remunerações”. 5
“O
amor é tão maravilhoso, que basta o desejo de abrigá-lo no íntimo e ei-lo que se
encontra embrionário, passando a germinar e desenvolver-se. O amor é o
verdadeiro milagre da vida. Frágil, é portador de força incomum. Assemelha-se a
essa persistência e poder do débil vegetal, que medra em solo coberto de
cimento e asfalto, enfrentando todos os impedimentos, e ali ergue sua pequenina
e delicada folha verde de esperança”. 6
“Amar
é dever de todas as criaturas, e ninguém pode se eximir de fazê-lo. Esse amor
deve ser incondicional, chegando à totalidade como experiência de
auto-iluminação e de autolibertação. Enquanto o ser humano se encontra nas
faixas predominantes do ego, ata-se aos caprichos escravizadores que são
decorrentes dessa atitude primária. No entanto, à medida que ama, dilui as
amarras dolorosas e experimenta a alegria da liberdade em verdadeiro hino de
louvor. Altera-se lhe então, a paisagem da emoção, e todo ele se transforma em
um feixe de ternura, de ação dignificante, de paz irradiante”. 7
1 Allan Kardec – O
Livro dos Espíritos, questão 621.
2 Allan Kardec – O
Livro dos Espíritos, questão 621a.
3 Divaldo P. Franco
– Provas Científicas da Reencarnação, Palestra em 23/11/2000.
4 Mateus: 22, 34 a
40.
5 Emmanuel
(Paciência – psicografia de Francisco Cândido Xavier).
6 Joanna de Ângelis
(O Despertar do Espírito – psicografia de Divaldo Pereira Franco).
7 Joanna de Ângelis
(Jesus e o Evangelho à Luz da Psicologia Profunda – psicografia de Divaldo
Pereira Franco).
3ª REFLEXÃO – CÓDIGO PENAL DA VIDA FUTURA
Nenhuma
transgressão da Lei deixará de ser cobrada. Não se passará impune. Se o
livre-arbítrio permitiu à criatura errar, a Justiça Divina se fará presente
para que ela repare o seu erro, na mesma ou em outra encarnação.
“Em
que pese a diversidade de gêneros e graus de sofrimento dos espíritos
imperfeitos, o código penal da vida futura pode resumir-se nestes princípios”:
1º - O sofrimento é
inerente à imperfeição;
2º - Toda
imperfeição, assim como toda falta dela resultante, traz consigo o próprio
castigo nas consequências naturais e inevitáveis (...);
3º - Podendo todo
homem libertar-se das imperfeições por efeito da vontade, pode igualmente
anular os males consecutivos e assegurar a futura felicidade.
“A cada um segundo
suas obras, no Céu como na Terra : - tal é a lei da Justiça Divina”. Allan Kardec – (O Céu e o Inferno – Cap.
VII, item 33).
“O
arrependimento, conquanto seja o primeiro passo para a regeneração, não basta
por si só; são necessárias: a expiação e a reparação”. Arrependimento, expiação
e reparação constituem, portanto, as três condições necessárias para apagar os
traços de uma falta e suas consequências. O arrependimento suaviza os travos da
expiação, abrindo pela esperança o caminho da reabilitação; só a reparação,
contudo, pode anular o efeito destruindo-lhe a causa. Do contrário, o perdão
seria uma graça, não uma anulação”. Allan
Kardec - (O Céu e o Inferno – cap. VII item 16)
“Cada
um leva para a outra vida e traz, ao nascer, a semente do passado”. Somos hoje
o resultado das experiências vividas no passado, como seremos amanhã, o produto
de nossas ações hoje”. (Léon Denis – O Problema do Ser, do Destino e da Dor).
4ª REFLEXÃO – O AUTOCONHECIMENTO
O olhar para dentro de si e reconhecer cada espaço, cada
ponto obscuro, cada mazela, cada erro, enfim, conhecer os limites que são
determinados pela condição do ser humano. Pois, só esse olhar revelador será
capaz de conduzir o homem à sua regeneração através de sua submissão a Deus.
“Qual
o meio prático mais eficaz que tem o homem de se melhorar nesta vida e resistir
à atração do mal?”.
Um
sábio da antiguidade vo-lo disse: “Conhece-te a ti mesmo”.
Conhecemos toda sabedoria dessa máxima, porém a
dificuldade está precisamente em cada um conhecer-se a si mesmo. Qual o meio de
consegui-lo?
Fazei
o que eu fazia, quando vivia na Terra: ao fim do dia, interrogava a minha
consciência, passava revista ao que fizera e perguntava a mim mesmo se não
faltava algum dever, se ninguém tivera motivo para de mim se queixar. Foi assim
que cheguei a me conhecer e a ver o que em mim precisava de reforma. Aquele
que, todas as noites evocasse todas as ações que praticara durante o dia e
inquirisse de si mesmo o bem ouo mal que houvesse feito, rogando a Deus e ao
seu anjo da guarda que o esclarece, grande força adquiriria para se
aperfeiçoar, porque, crede-me, Deus o assistiria. Dirigi, pois, a vós mesmo
perguntas, interrogai-vos sobre o que tendes feito e com que objetivo
procedestes em tal ou tal circunstância, sobre se fizeste alguma coisa que,
feita por outrem, censuraríeis, sobre se obrastes alguma ação que não ousaríeis
confessar. (...) O conhecimento de si mesmo é, portanto, a chave do progresso
individual (...). Perscrute, conseguintemente, a sua consciência aquele que se
sinta possuído do desejo sério de melhorar-se a fim de extirpar de si os maus
pendores, como do seu jardim arranca as ervas daninhas (...).” (Allan Kardec, O Livro dos Espíritos questão
919, respondida por Santo Agostinho)”.
“A
pessoa que ainda não se encontrou, não é capaz de se encontrar com ninguém.” (Divaldo Pereira Franco – Os Ideais
Espíritas e o Despertar do Terceiro Milênio – 31/12/1998).
“Enquanto
nosso inconsciente não nos revelar, nós continuaremos pessoas desconhecidas de
nós mesmos (Divaldo Pereira Franco –
Workshop Auto-Descobrimento 09/04/1995)”.
“Fiz
a viagem exterior agora quero fazer a viagem interior. Estou na busca interior
de mim mesmo”. (Edgar Mitchell –
Astronauta da Apolo XIV que pisou a Lua em fev/1971 – Programa Fantástico, Rede
Globo, 31/12/00).
Otavio Pereira e
Linberto Fonseca
28 outubro, 2013
Material - Atendimento Fraterno
Como combinado, o material referente ao Atendimento Fraterno está disponível no link abaixo.
Atendimento_Fraterno.pdf
Atendimento_Fraterno.pdf
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