20 setembro, 2020

PROTOCOLO

 

Os muitos conceitos de protocolo1 têm sido aplicados nos vários sentidos, hoje diante do assédio virótico que nos atormenta ele tem sido usado com frequência. Entretanto, durante uma pandemia como a que nos assola nesse momento talvez o melhor sentido seja - Conjunto de regras ou critérios cumpridos numa dada atividade seja na execução, avaliação ou aceitação de materiais, produtos ou equipamentos; rotina. Tal conceito exige uma prática. A prática que precisa estar relacionada com o que se quer atingir, portanto se torna necessário que a sua clareza possa atingir o público alvo.

Na modernidade temos a internet, a televisão, a imprensa escrita, a mídia em geral, mesmo assim um número expressivo de indivíduos ignora ou por rebeldia e não atendem aos protocolos estabelecidos, ainda que no momento o número de internações ou de mortes esteja estampado nos vários veículos de informação. Como estivessem imunes à contaminação. Tal ignorância não afeta só os que não obedecem às recomendações, não se consideram transmissores, intermediário entre a saúde e a doença.

Se observarmos no percurso da História da Humanidade encontraremos alguns protocolos bem mais antigos que atravessaram a linha do tempo. Um dos mais significativos é aquele que propunha ao homem o retorno à Casa Paterna, traçando linhas de comportamento a serem seguidos e perpetuados. Chegou aos nossos dias, mas quantos deixaram de segui-los penetraram no caminho do erro intencional ou não. Falamos do decálogo - Os Dez Mandamentos - recebido e transmitido por Moisés aos judeus. Os transcrevemos aqui:

 

   Amarás a Deus sobre todas as coisas.
   Não tomarás o Nome de Deus em vão.    

   Santificarás os dias de festa
   Honrarás a teu pai e a tua mãe.
   Não matarás.
   Não cometerás atos impuros.
   Não roubarás.
  Não dirás falso testemunho nem mentirás.
   Não consentirás pensamentos nem desejos impuros.
10º Não cobiçarás os bens alheios.

Porém, desde aquela data, este protocolo, que ultrapassa séculos, foi objeto do não cumprimento. Transformou-se em instrumento de razão e motivação para mortes, destruição, mesmo que se soubesse das consequências. Basta um rápido olhar nas linhas do Velho Testamento. Embora, com o passar dos anos, diante de tanta miséria e perseguições aquelas palavras frutificaram. Era a lei estabelecida.

Diante da rebeldia dos homens daquele tempo, aquilo que se chamaria mais tarde de pecados capitais campeava entre o povo. A estes pecados juntemos as virtudes que eles contrariavam eram:

1.       Soberba x Humildade

2.       Avareza x Caridade

3.       Luxúria x Castidade

4.       Inveja x Bondade

5.       Gula x Temperança

6.       Ira x Paciência

7.       Preguiça x Diligência             

Avaliemos e olhemos para nós mesmos e perguntemos em quantos deles nos enquadramos e quantos outros não considerados capitais nós cometemos no nosso dia a dia?

Naquele momento Moisés nos trazia a “Lei Divina”, mas a ela acrescentou leis humanas conhecidas como leis mosaicas, para de alguma forma controlar o comportamento daquele povo que acabara de sair do cativeiro. Ainda vemos nela alguma influência do Código de Hamurabi. De alguma forma era Justiça sendo implantada. Mas as dificuldades da obediência perante a dureza da Lei Mosaica e a permissividade que era concedida, permitiram que uma série de delitos, atrocidades e sacrifícios fossem cometidos em nome de Deus.

Deus havia sido construído, não em forma de animais ou objetos, mas de um modelo antropomórfico, na mente dos homens, não no coração. Tinha todos os defeitos, tais como ser vingativo, tinha um povo privilegiado desde que obedecessem cegamente, exigindo sacrifícios e a opulência do seu templo.

Séculos passaram. Os homens não se consideravam irmãos. O importante eram os rituais. As formas internas não tendo nada a ver com o coração. Dentro deste desgaste do papel divino, diante de suas criaturas. A misericórdia divina, como Pai que é não abandonou a sua criatura e nos enviou seu filho, nosso irmão maior Jesus. Estávamos agora diante de um novo Protocolo, não desprezando o anterior, mas traduzindo-o de forma mais simples e objetiva. Jesus ensinava a forma real de olharmos Deus, não mais antromórfico. Um Deus justo, amoroso, misericordioso. Neste novo Protocolo, conhecido como a Segunda Revelação, não era só a Justiça, um novo sentimento entrava em cena: o Amor.

As falas de Jesus e seus exemplos transcritos pelos evangelistas se transformaram num guia seguro para a caminhada existencial. Em um comentário, Gandhi afirmava que se todos os livros fossem queimados e só restassem as “Bem Aventuranças” o mundo não estaria perdido.  O coração dos homens ainda estava endurecido.

Como no passado remoto, quando os homens se perderam dos ensinamentos divinos, foram novamente esquecidos os ensinamentos de Jesus, criando-se um Cristianismo a sua maneira. Conquistas territoriais, exuberância no vestir, novos rituais, imposição das suas crenças, entre outras coisas. Vieram as Cruzadas, a ignominiosa Inquisição. As fogueiras e as torturas, como se substituíssem o antigo circo romano onde os cristãos eram dizimados após atrozes sofrimentos.

Mais uma vez os homens se afastavam de Deus e de Seu filho Jesus. Haviam ensurdecido seus corações pelo clamor da matéria, talvez lembrando um dizer popular “quem não está comigo está contra mim”. Os seres humanos padeciam do direito de adorar Deus da forma cultural em que viviam e que muitas vezes não conseguiam compreender alguma coisa tão subjetiva e abstrata como o amor divino. Surgiram dissidências na forma de entender os Evangelhos e praticá-los. Havia releituras destes e com consequência até mesmo sangrentas como A Noite de São Bartolomeu.

Parecia que a misericórdia divina havia esquecido suas criaturas, mas não foi assim. Os homens esqueceram Moises, esqueceram Jesus, entretanto o Pai não nos esqueceu. Se as suas criaturas desprezaram o ensinamento das palavras vindo através de um só homem, Ele na sua sabedoria nos colocou à disposição aquilo que viria ser o Terceiro Protocolo, mais conhecido como a Terceira Revelação.

O que representou esse novo movimento, os espíritos que viveram e até mesmo conviveram conosco, vieram trazer à tona toda a suas experiências em suas existências anteriores. Não exigia do homem um saber maior que o entendimento de histórias ocorridas e de fácil comprovação. Esta Revelação nos colocou diante de uma nova percepção... representada pela Verdade.

Novamente os ensinamentos anteriores não foram abandonados, mas explicados. A ação de um homem serviu apenas para dar compreensão aos novos ensinamentos através de uma organização científica, ou seja, codificando as informações de forma a serem entendidas por todos, letrados ou não. Os rituais foram abolidos e só se exigia de cada um a sua capacidade de entendimento. Sendo baseado no Ensino Moral, que é a única parte inquestionável dos Evangelhos pois não oferece margem a discussões.

Hoje a leitura das Obras da Codificação Espírita, realizada por Allan Kardec, nos oferece um universo de informações onde podemos encontrar: Filosofia (Livro dos Espíritos); Ciência (Livro dos Médiuns); Religião/Moral (Evangelho Segundo Espiritismo); Relato das experiências de vários Espíritos conforme as suas evoluções e suas situações em consequências das suas vivências existenciais (Livro O Céu e O Inferno) e uma abordagem desde a criação do mundo até o complexo Ser Humano (Livro A Gênese). A partir desse momento outras informações foram surgindo, ainda com Kardec tivemos obras do O Principiante Espírita e a após a sua desencarnação as Obras Póstumas. E também com vários cientistas, como William Crookes e Cesar Lombroso. Segundo com a obra formidável de Léon Denis, tais como: O Problema do Ser do Destino e da Dor; Depois da Morte; No Invisível; Joanna D’Arc; O Grande Enigma; Cristianismo e Espiritismo entre outras.

No Brasil contamos as contribuições de Eurípedes Barsanulfo (fundador do primeiro Colégio Espírita); Francisco Cândido Xavier (responsável por centenas de obras espíritas) e ainda em plena produtividade Divaldo Pereira Franco (obras através da psicografia dos espíritos Joanna de Ângelis, Manoel Philomeno de Miranda e outros). As citações destes autores nos mostra que a resignificação de nossas mentes e nossos corações precisam sempre de testemunhos que motivem e nos encaminhem para busca de Jesus neste mundo e não necessariamente na Erraticidade.

Mais uma razão para atendermos aos Protocolos exigidos pela pandemia encaminhados por múltiplas autoridades.

Otavio Pereira de Oliveira   - Coordenador do DAE/GEJA da FEP

 

(1) Nota : Do grego prɔtɔˈkɔlu que ao longo do tempo foi adquirindo vários significados: a saber:

- Conjunto de formalidades e preceitos que se devem observar em cerimônias oficiais ou atos solenes; cerimonial; etiqueta.

- Acordo estabelecido entre entidades ou serviços.

- Conjunto de regras ou critérios cumpridos numa dada atividade, seja na execução, avaliação ou aceitação de materiais, produtos ou equipamentos; rotina.

- Registro da correspondência expedida, com a assinatura dos destinatários.

- Ata das conferências ou deliberações entre ministros plenipotenciários de diversos Estados, ou entre congressistas internacionais.

- Convenção entre duas ou mais nações.

- Antiquado registro, feito pelo escrivão do juízo, do que se passou na audiência.

NO TEU ESFORÇO DE AUTOILUMINAÇÃO

NO TEU ESFORÇO DE AUTOILUMINAÇÃO, TEM EM VISTA QUE A PACIÊNCIA É FATOR PRIMORDIAL PARA O ÊXITO - JOANNA DE ÂNGELIS

PACIÊNCIA: Capacidade que o indivíduo possui para desacelerar o anseio de realização imediata.

Num momento em que o ser humano vê-se constrangido a ficar em "isolamento social", onde sua casa sem grades torna-se sua prisão, sua mente condicionada a intermitentes pensamentos, recheados do passado, do presente e do futuro, para compreender-se, para tirar o véu da ilusão que o mantinha míope, de repente tudo o que menos valorizava torna-se um conhecimento novo, um algo a mais que o empurra para a aceitação do aqui e do agora. Nessa visão turva do viver, necessário se faz que o ser detenha-se na paciência para aceitar o tempo buscando a luz do entendimento. Nesse estado mental, uma forte pressão interna começa a ser sentida, nos cruzamentos do raciocínio não há placa indicativa de qual direção a ser seguida e então ocorre um colapso mental e o ser decide-se por seguir o caminho mais ameno porém não menos doloroso que é o da paciência para esperar passar a tormenta qual ser recém-nascido que espera no colo materno o tempo certo para andar...

Esse momento sugere passividade, reflexão, mas como se o cérebro cavalga sem direção? Necessário então ficar a sós consigo mesmo observando o movimento a sua volta, atento ao fluxo da vida, esse rio caudaloso que nos leva ao mar da renovação da autoiluminação

A morte está por todos os lugares do planeta e está muito próxima, bastando apenas que um perca a paciência para perder a orientação do caminho e reiniciar sua estada na terra com os mesmos padrões de hábitos, de costumes, se apegando a cultura velha de seu ambiente físico.

A paciência, pois, ressignifica nesse momento, a condição primária do bem viver mostrando que para tal situação basta que o indivíduo permaneça na condição de observador, analisando, compreendendo e aceitando o que a vida oferece. Se o indivíduo se encontra em uma situação de enfrentamento onde o outro ameaça física e moralmente, a paciência surge pedindo análise interpretativa usando para tal cometimento a máxima do Cristo: faça aos outros o que quer que lhe faça.

O ser paciente é fruto de erros e acertos de constantes reclamações não cabidas, de agressões verbais infantis, de movimentos acelerados onde o nível de cortisol aumenta gerando raiva, angústia e perda de tempo. Após toda essa vivência o indivíduo percebe que de nada vale tanta energia jogada fora e para refletindo que melhor é esperar ouvindo uma música, escrevendo ou apenas lendo, levando a mente a um nível acima dos acontecimentos e esperar conscientemente. Assim forma-se na individualidade a forma simples do ser superior, do homem de bem, do iluminado, que é a capacidade de gerir o tempo a seu favor, acalmando-se, para ouvir os batimentos do coração, deixando-se atravessar por fluidos de toda natureza, positivos e negativos, sem reter coisa alguma, pois o ser paciente vive em sintonia com a fé, com a compaixão, com a alegria, com Deus. Vivamos, pois em paciência, andando cada um em sua velocidade compreendendo que a pressa amarra a mente, e a paciência a faz voar. Voemos!

Um espírito amigo (médium Ângela Meneses)