O VÍRUS CONTINUA... A NOSSA EXISTÊNCIA TAMBÉM CONTINUA?
Virose... Termo tornado popular quando não se conhece a causa de uma
enfermidade, talvez tenha ficado banalizado, entretanto, sem deixar nenhuma
sombra de dúvida, algumas desta viroses se estabelecem com sua identidade bem
nítida e mostram sua face a partir das consequências de suas ações.
Há homens
que aos poucos consideram a ciência como capaz de resolver todas as suas
querelas com as enfermidades e se esquecendo grandiosidade da ação do Criador. Tal grandiosidade lhes dá a
oportunidade de buscar suas soluções ao tempo que, no mesmo processo, coloca os
limites onde só a humildade e a submissão à Sua vontade encontram eco.
Diante de
uma pandemia, epidemia ou qualquer tipo de doença individual, expressões de
qualquer patologia, o desespero toma
conta da humanidade. Alguns poucos conseguem ter o discernimento necessário e a
compreensão do que é o mundo de Prova e Expiação e que aqueles que aqui habitam
estão num momento de resgate ou de afirmação da sua melhoria moral.
Cabe uma
pergunta: o que falta ao Ser Humano para encontrar o caminho da felicidade?
Lembrando a mitologia grega sobre a Caixa
de Pandora, mito que se inicia pelo roubo de uma fagulha do fogo sagrado por
Prometeu (representava a inteligência e o saber), e termina com
a abertura da Caixa de Pandora, onde estavam depositados os males e as doenças,
mas que ao ser fechada conseguiu reter a Esperança. “Por isso, o mito da caixa
de Pandora quer significar que ao homem imprudente e temeroso são atribuídos os
males humanos como consequência da sua falta de conhecimento e previsão. Também
é curioso observar como o homem depende de sua própria inteligência para não
ficar nas mãos do destino, das intempéries e dos próprios humanos.”(1).
Guardando do mitológico a lição de hoje, trazendo para a
realidade que a Doutrina Espírita põe
à nossa disposição, podemos compreender que a lição da Caixa de Pandora ensina
ao homem a ser ele mesmo o arquiteto do seu futuro. Mas Deus não quer que a sua criatura sofra eternamente e lhe oferece
alternativas de mudanças: a primeira é o combate ao orgulho e à vaidade, as
grandes chagas da humanidade; a segunda lhe dota de inteligência e
discernimento do que é certo ou errado e da capacidade de arrependimento e
reparação. Mas fez mais, nos manda seu filho Jesus para nos ensinar a
resignação através de suas palavras eternizadas no nosso conhecido e pouco
praticado Evangelho, grande Manual de Moral e Ética,
como uma escada de ascensão à Casa Paterna em que cada degrau significa a
compreensão do homem do seu papel na Terra.
Mas além do Evangelho, sabendo das dificuldades
do homem em sociedade (onde muitas vezes se perde), dota-o de uma semente,
implantando-a em seu coração,este éo amor, que é operacionalizado através
da caridade.
No momento que atravessamos, temos visto grandes impulsos de
generosidade: pessoas ajudando aos seus irmãos menos felizes, que transitam na
necessidade e na miséria (mesmo das coisas básicas para a sobrevivência),
empresas com substanciosas doações, enfim, há uma mobilização de esforços
assistenciais. É um belo exemplo, mas serão prorrogados após a pandemia?
Diversas formas de expressões religiosas se mobilizam
materialmente e espiritualmente através de cultos, missas em intenção de ajuda,
preces intersessórias, terços, mensagens edificantes e consoladoras e outras
tantas formas de representação da fé.
Entretanto, diante das dificuldades que se apresenta, uma
tríade de palavras nos suscitam ao trabalho humanitário, a saber: Fé
– Vontade
– Perseverança.
A fé, como nos ensina o Evangelho Segundo o Espiritismo,
significa conceitualmente: ...”entende-se como fé
a confiança que se tem na realização de uma coisa, a certeza de atingir
determinado fim. Ela dá uma espécie de lucidez permitindo se veja, em
pensamento, a meta que se quer alcançar e os meios de chegar lá, de sorte que
aquele que a possui caminha, por assim dizer, com absoluta segurança. Num como
noutro caso, pode ela dar lugar a que se executem grandes coisas. A fé sincera e verdadeira é sempre calma;
faculta a paciência que sabe esperar, porque, tendo seu ponto de apoio na
inteligência e na compreensão das coisas, tem a certeza de chegar ao objetivo
visado. A fé vacilante sente a sua
própria fraqueza; quando a estimula o interesse, torna-se furibunda e julga
suprir, com a violência, a força que lhe falece. A calma na luta é sempre um
sinal de força e de confiança; a violência, ao contrário, denota fraqueza e
dúvida de si mesmo.” (2)
Podemos
considerar a fé como o combustível que leva o homem a se movimentar para as
grandes realizações, porém nunca esquecendo que ela deve ser sempre
raciocinada, e que não deve ser passageira.
Portanto deve-se
juntar à fé, a vontade, que determina a direção e a
constância dos esforços aos objetivos a serem alcançados. Ela é a
faculdade de perseguir o bem conhecido pela razão. A vontade pode ser fortalecida no indivíduo através da educação
esclarecedora e, principalmente, através do combate ao capricho e à obediência
passiva, bem como pela formação do hábito de propor a si mesmo tarefas difíceis
e de trabalhar até conseguir alcançar o objetivo. (3). Mas
o ditado popular nos ensina que: “vontade dá e passa”, o que no leva
concluir a necessidade do terceiro elemento - perseverança.
Em que
consiste a perseverança se não no investimento constante da vontade?
"Qualidade de quem não desiste com
facilidade; Característica ou particularidade de quem persiste, insiste e não
desiste de uma coisa específica; pertinácia, constância: conseguiu.. Em termos
psicológicos significa: “Capacidade de sustentação
voluntária de uma atividade implicada por uma tarefa prolongada” (4).
Lembrando
ainda o mito da Caixa de Pandora, cuja última coisa retida após o seu
fechamento foi a esperança: modernamente, podemos dizer que é solo fértil para
as oportunidades de mudança e para os consistentes objetivos para evolução do
ser humano. Considerando que a esperança
é a disposição do espírito que induz a esperar que uma coisa há de se realizar ou suceder. (5)
Considerando que a existência é um estágio
passageiro no qual se possibilita a reavaliação moral e que oportuniza a
renovação desde a mudança de pensamento e comportamento, e nos oferece tantos
testes, como o atual, a pandemia, através de um vírus tirano. Mas que, ao mesmo
tempo, permite um reencontro conosco mesmo e com aqueles que convivemos mais
intimamente - devolve-nos o sentimento de família.
Podemos
agora fazer escolhas: sermos desesperados ou solidários? Podemos,
também, conviver harmonicamente conosco mesmo descobrindo qualidades que
estavam ocultas pelos afazeres do dia a dia. Nosso olhar fica menos
comprometido com a obscuridade dos prazeres mundanos e se desloca para o grande
objetivo da nossa existência, o
retorno à Casa Paterna.
Otavio Pereira Coordenador DAE e GEJA/FEP