04 julho, 2010

A ARTE NO MOVIMENTO ESPÍRITA

Atualmente temos visto surgir no movimento espírita, muitas produções de natureza artística no âmbito do teatro, da música, da dança e da expressão corporal, para citarmos algumas delas. Cremos ser importante o surgimento de tais realizações, pois o Espiritismo em muito pode contribuir para a existência e manutenção da verdadeira Arte, aquela que busca despertar a essência divina que dormita na criatura humana. Entretanto, para tal, se faz necessário que os realizadores dessas produções no meio espírita, além de concentrarem a atenção na temática espírita que fará vir à tona os sentimentos sublimes dos espectadores e ouvintes, também atentem para a percepção plástica dessas realizações, isto é, pelas condições estéticas e os efeitos melódicos, cênicos e expressivos que retratarão a criação artística. Segundo o Espírito Vianna de Carvalho. “A Arte tem como meta materializar a beleza invisível de todas as coisas, despertando a sensibilidade e aprofundando o senso de contemplação, promovendo o ser humano ao páramos da Espiritualidade.” (Atualidade do Pensamento Espírita – item 144 – Psicografado por Divaldo P. Franco)

As manifestações artísticas produzidas no meio espírita quando fiéis a essa colocação do Espírito Vianna de Carvalho, fazem dos seus autores, realizadores e interpretes obreiros valorosos da difusão da Boa Nova anunciada por Jesus, através do Espiritismo. Para tal alguns cuidados são imprescindíveis. Na música, por exemplo, a letra deve estimular nos ouvintes sua sensibilidade para o bem e para o belo e a melodia deve ter ritmo e vibração sonora em plena comunhão com os propósitos espirituais da letra. Assim, com todo o respeito aos ritmos populares (samba, frevo, forró, marchas carnavalescas, etc.), não os vemos como fundos melódicos para as letras com cunho espírita. Esses ritmos sintonizam mais com os sentidos físicos das criaturas do que com a sensibilidade do espírito que as anima. Com essa colocação não queremos desvalorizar as tradições e culturas que caracterizam as músicas regionais, pois elas são alicerces para os avanços futuros, todavia a música espírita, além de entreter e alegrar deve instruir e apontar o caminho para a perfeição das criaturas; deve apresentar uma nova forma de enlevo para seus ouvintes; deve conduzi-los as paragens sublimes que os farão experimentar emoções diferentes daquelas comumente conhecidas e vivenciadas no mundo. Os grandes autores e intérpretes da música que trilharam esse caminho se tornaram imortais. Nós espíritas, ouvintes e artistas, não devemos menosprezar a boa música, popular ou não, nacional ou internacional, contudo devemos concorrer para o surgimento de um novo movimento musical, onde as letras e os ritmos melódicos estejam adequados aos propósitos evolutivos da criatura humana, sem no entanto incorporarmos a esse acervo melódico e musical, produções outras, advindas dos diversos segmentos religiosos ou não.

No que se refere às artes cênicas como o teatro, a danças e a expressão corporal, também como a música, essas manifestações artísticas devem, primordialmente, levar seus expectadores a perceberem a realidade nas suas duas dimensões da vida; a material e espiritual. Nesse sentido o Espiritismo pode muito contribuir, pois seu acervo literário é rico. No entanto, temos que refletir sobre a forma como essas obras devem chegar às pessoas. Não podemos, mesmo movido pelo desejo sincero de divulgar o Espiritismo, promover eventos de caráter artístico em nossas instituições ou fora delas, que contrariem a harmonia, o encantamento e a sublimidade das genuínas expressões da Arte, pois isso não só será um desserviço a Arte em si, como também a própria divulgação do Espiritismo. Os atores e as atrizes que encenarão as obras de natureza espírita deverão ser expressivos, dotados da técnica apropriada, isentos de arrebatamentos de vaidade e vedetismo, públicos ou de bastidores. As indumentárias utilizadas nas apresentações deverão ser compatíveis não só com o contexto da obra, mas acima de tudo, com os padrões morais exigíveis nos ambientes que estejam sob a responsabilidade espírita, o mesmo ocorrendo com as posturas e movimentos cênicos que não devem propiciar constrangimento aos espectadores. Movimentos cênicos desalinhados, impróprios ou que exponham as partes íntimas da anatomia humana, bem como a utilização, durante as encenações, de roupas que evidenciem acentuadamente o contorno do corpo, como se os atores estivessem desnudos, ou as que comprometem o pudor não devem fazer parte dos recursos cênicos e da indumentária dos eventos artísticos espíritas. Em hipótese alguma devemos importar para nosso meio, os destemperos de comportamento e as posturas inapropriadas dos pseudos artistas que, mesmo afrontando a estética e a moral, são plenamente aplaudidos e imitados por boa parte da sociedade. Para isso os artistas e diretores artísticos devem ter talento para poderem passar para o público, de forma natural, as impressões e expressões dos seus personagens. Tal condição não exigirá só competência técnica. Também exigira aprimoramento espiritual dos seus interpretes. Segundo o Espírito Vianna de Carvalho, na mesma obra supracitada, “à medida que o ser progride, amplia a capacidade de perceber a beleza e senti-la nas suas várias expressões.” Assim, constitui requisito básico para todos os que se propõem a divulgar o Cristianismo à luz do Espiritismo por meio da Arte, não só conhecer as obras básicas espíritas ou ser profissional nas artes cênicas, mas principalmente estar integrado às demais atividades de estudo e serviços da instituição a que esteja vinculado, ocasião em que não só lhe será oportunizado conhecer os ensinamento e propósitos espíritas como também, participar da dinâmica dos serviços realizados em prol da felicidade dos seus semelhantes.

Desta forma, há o Espiritismo de restaurar, com suas manifestações artísticas, o verdadeiro espírito da Arte; e no dizer de Emmanuel, na obra O Consolador, psicografada por Francisco Cândido Xavier, o artista verdadeiro será sempre “o médium das belezas eternas e o seu trabalho, em todos os tempos, fará tanger as cordas mais vibráteis do sentimento humano, alçando-o da Terra para o Infinito e abrindo, em todos os caminhos, a ânsia dos corações para Deus, nas sua manifestações supremas de beleza, de sabedoria, de paz e de amor.”

Xerxes Pessoa de Luna

Nenhum comentário: