14 julho, 2010

OS EVENTOS NO MOVIMENTO ESPÍRITA E SUA SINTONIA COM O ESPIRITISMO

Comumente temos visto surgir no movimento espírita eventos, objetivando captação de recursos financeiros e por vezes até o entretenimento, que, devido a sua natureza, estão a merecer de todos nós espíritas e principalmente dirigentes de instituições espíritas, uma reflexão mais apurada acerca da sua sintonia com os reais propósitos do Espiritismo no Mundo em que vivemos. Não queremos com isso evidenciar uma preocupação exagerada sobre o assunto, mas evitar que incorramos no erro referente aos fins justificando os meios.
Sabemos que, em síntese, o foco da missão do Espiritismo no Mundo é a melhoria ético moral da criatura humana, dentro dos fundamentos do AMOR, ensinados e vivenciados por Nosso Senhor Jesus Cristo; daí a Doutrina Espírita ser também denominada de O Cristianismo Redivivo. Tal direcionamento tem sua sustentabilidade no fato de que a criatura humana, uma vez moralizada, produzirá empreendimentos favoráveis a todos e não somente a poucos privilegiados. A moralização do ser humano não só favorecerá sua sobrevivência digna como também o auxiliará nas suas relações interpessoais, na sua vivência cidadã, e nas suas produções científicas, jurídicas, médicas, culturais, artísticas e no entretenimento, em geral.
O Centro Espírita como espaço educacional, por excelência, não pode perder esse foco. Suas ações e ensinamentos devem contribuir, essencialmente, para que o Espiritismo atinja todas as suas metas, principalmente aquela referente à promoção do progresso espiritual da criatura humana. Para isso, deve oportunizar, na sua dinâmica de atividades, o maior número possível de vivências voltadas para a solidariedade, fraternidade, e respeito entre as criaturas humanas, sem, no entanto, nenhuma delas ferir as recomendações do Cristo e do Espiritismo. Na sua busca, justa, de recursos para atender as necessidades de sobrevivência da própria instituição e/ou continuidade dos seus programas assistenciais é importante que nenhum evento seja realizado objetivando, unicamente, a superação dessas necessidades de ordem material. Que tais necessidades sejam consideradas e até sirvam de motivação para o planejamento de um evento, entretanto o estilo e o meio empregado para sua realização não devem colidir com os propósitos do Cristo através do Espiritismo. De certa forma Jesus deixou bem claro esse cuidado nessa passagem do Evangelho de Lucas:
“Aconteceu que, indo em viagem, entrou em uma certa aldeia. Uma mulher chamada Marta, o recebeu em sua casa. Esta tinha uma irmã, chamada Maria a qual, sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra. Maria, porém, afadigava-se muito na contínua lida da casa; e, apresentou-se diante de Jesus, dizendo: Senhor, não se te dá que minha irmã me tenha deixado só com o serviço da casa? Dize-lhe , pois, que me ajude. O Senhor, respondendo, disse-lhe: Marta, Marta, afadigas-te e andas inquieta com muitas coisas. Entretanto uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada.” (Lucas, 10 – 38 a 42)
No contexto das realizações das atividades dos Centros Espíritas, essa passagem da vida de Jesus e o ensinamento nela contido são bastante oportunos, isso por que, a exemplo de Marta, às vezes, somos levados a nos envolver mais com a lida da instituição, decorrente das frentes de trabalho abertas, do que com aquelas outras voltadas para a educação ético moral das criaturas (Marta, Marta, afadigas-te e andas inquieta com muitas coisas. Entretanto uma só coisa é necessária). Não é raro vermos a ausência de trabalhadores das instituições nas reuniões públicas doutrinárias e nos grupos de estudo (sentada aos pés de Jesus, ouvia a sua palavra) por estarem bastante atarefados com os afazeres do Centro nos horários dessas reuniões, como Marta na lida da casa. Também, não é raro constatarmos a grande preocupação de algumas instituições espíritas em buscar recursos financeiros para a superação de suas dificuldades econômicas utilizando-se de iniciativas mais sintonizadas com os folguedos e eventos estranhos a moral espírita cristã, do que com aqueles coerentes com os propósitos doutrinários. Os folguedos regionais, como quadrilhas juninas, festas carnavalescas, forró, bingos, cirandas, etc., têm seu espaço devido e seus patrocinadores apropriados, que, decerto, não são nem as casas espíritas nem seus dirigentes. Não que esses eventos não tenham sua ressonância e aceitação na sociedade ou que sejam reprováveis, mas sim, por não se adequarem a proposta do Espiritismo para a humanidade. Senão vejamos; os festejos juninos evidenciam fogueiras, fogos de artifícios e quadrilhas com casamentos matutos que nada têm a ver com o Espiritismo. As festas carnavalescas e bailes de forró são estímulos para comportamentos geradores de desagregação no grupo, principalmente na nossa realidade social tão carente de uma moral e ética apropriadas à paz e a tranqüilidade. Os bingos, por sua natureza de jogo de azar, não se adéquam a prática espírita.
Desenvolver iniciativas voltadas para a moralização da criatura humana é ficar com JESUS. (Maria escolheu a melhor parte, que lhe não será tirada) É certo que a casa espírita precisa realizar atividades que visem à superação de suas carências, entretanto essas atividades devem somar-se a aquelas, já existentes na instituição, que estimulam as pessoas a colocarem em prática seus sentimentos de solidariedade, fraternidade e caridade que, na sua essência, são manifestações da centelha divina existente em todos nós. Espelhemo-nos no exemplo de Francisco de Assis, que ia aos lares sensibilizar seus moradores a fazerem doações aos pobres (socialmente carente) e enfermos. Nos dias atuais poderíamos ir a empresas comercias e industriais para sensibilizar seus dirigentes a integrá-las nessa jornada de solidariedade humana. Poder-se-ía também, promover feiras de livros espíritas, campanhas de donativos envolvendo freqüentadores e lares vizinhos a instituição, almoços e lanches fraternos, apresentações artísticas (teatro), culturais (poesias, contos e poemas) e musicais (coral e instrumental) com temática espírita, bem como apresentações de filmes seguidos de debates com finalidades doutrinárias
Coloquemos mais confiança nas palavras do Cristo quando nos conclama a confiarmos em DEUS, “Vosso Pai sabe que tendes necessidade de todas elas. Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e sua justiça, e todas estas coisas vos serão dadas por acréscimo.” (Mateus, 6 – 32 e 33). Todo aquele que divulga e crê com convicção nos ensinamentos de Jesus, naturalmente, jamais deixará de cumprir com suas orientações, sob pena de se incluir no rol daqueles a quem Jesus endereçou as seguintes palavras: “Por que me chamais vós Senhor, Senhor e não fazeis o que eu vos digo? Todo o que vem a mim, ouve as minhas palavras e as põe em prática.” (Lucas 6 – 46 e 47)
Se formos coerentes com Jesus e com o Espiritismo, decerto estaremos ajudando a construir um novo modo de vida no Mundo e entoando um novo e duradouro cântico de paz e Amor entre as criaturas. Quando as pessoas que vivenciarem a proposta espírita perceberem que ela, ao contrário dos modelos que hoje atraem multidões aos eventos, não só contempla a superação das necessidades e o entretenimento, mas acima de tudo contribui para um estado de felicidade pessoal e coletiva permanente, irão querer transplantá-la para o seu dia a dia, nas suas relações de trabalho, na sua vida familiar, na sua participação social e aí haverá mais instantes felizes entre as criaturas e o Espiritismo terá alcançado sua meta principal que é a de nos motivar a amarmo-nos uns aos outros como Jesus nos ama.

Xerxes de Luna

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